sexta-feira, 22 de abril de 2011

De volta para o futuro: amor e loucura

Hoje eu estava conversando com um amigo que fazia tempo que não via, ele é um artista talentosíssimo (artista porque o moço perambula por todos os cantos da arte, teatro, cinema, música... Haja fôlego pra acompanhar!) com quem gosto de falar sobre o universo ser grande e estar se expandindo, enfim, ele acabou me mostrando uma música que está compondo e de alguma forma a música me trouxe de volta 11 anos (nota da autora: tinha que ser 11?) no tempo. 

Naquela época eu era jovem e conheci meu primeiro amor. Ele realmente era uma coisa! Tinha uma lábia o rapaz, bom de papo pra caramba. Passamos 6 meses só conversando e trocando e-mails daqueles de Power Point, daqueles que sua mãe provavelmente manda pra você todos os dias. (lembrem-se que nessa época a internet era jurássica, Power Point era legal). Enfim, em um ato de lábia pra tentar me conquistar (era pra me conquistar, né?)  o rapazinho me mandou um texto ingênuo e bonitinho, sem muito significado pra uma menina de 15 anos mas que deve ter funcionado porque ouvindo a música do meu amigo, que não é nenhum pouco ingênua apesar de linda, a primeira coisa que lembrei foi do texto. E, pasmem, ele ainda existia na Internet!

Então pra todo mundo que quer reviver o tempo em que se encontrava pessoas no mIRC e top de linha era falar no ICQ, segue, direto do meu zipmail, o texto sobre meu setembro de 1999. Dementia!


"Certa vez os sentimentos e as qualidades dos homens estavam à tôa há um bom tempo. O ABORRECIMENTO já havia reclamado pela terceira vez que não agüentava mais ficar parado, então eis que a LOUCURA propôs-lhes uma brincadeira: - "Vamos brincar de esconde-esconde?"

A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou-lhe: - "Como é que se brinca disso?"

- É um jogo, explicou a LOUCURA, eu que fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão, enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro que eu encontrar vai ocupar meu lugar para continuar o jogo.

A idéia foi tão bem aceita pelo ENTUSIASMO que ele dançou com a EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou convencendo a DÚVIDA e a APATIA a participarem.

Mas nem todos quiseram brincar. A VERDADE preferiu não se esconder: - Não adianta eu me esconder, pois no final todos me encontram, justificou-se. A SOBERBA opinou que era um jogo muito bobo (lá no fundo o que a incomodava era somente o fato do jogo não ter sido idéia dela). A COVARDIA, como sempre, preferiu não se arriscar.

- Um, dois, três, quatro, cinco.., começou a LOUCURA. A primeira a se esconder foi a PRESSA que, como sempre, tropeçou na primeira pedra que encontrou no caminho e caiu. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO que, com o seu esforço, havia conseguido subir na copa da mais alta árvore.

A GENEROSIDADE quase que não conseguiu se esconder, pois cada lugar que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos: Indicou o lago cristalino para a BELEZA, a copa de uma boa árvore para a TIMIDEZ, o vento para a LIBERDADE, e assim por diante. Acabou se escondendo num pequeno raio de sol.

O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou uma caverna muito boa, mas fez questão de ficar sozinho. A MENTIRA se escondeu no fundo do oceano (alguns dizem que ela se escondeu atrás do arco-íris). O DESEJO se escondeu na boca de um vulcão. O ESQUECIMENTO, bem, não me recordo onde ele se escondeu.

Quando a LOUCURA estava chegando ao fim, no número 999.999, o AMOR ainda não tinha encontrado um local para se esconder, pois todos já tinham ocupado os melhores lugares, até que encontrou um roseiral, e carinhosamente se escondeu entre as suas rosas.

- Um milhão, gritou a LOUCURA, lá vou eu! A primeira a ser encontrada foi a PRESSA, que tinha caído mais umas 20 vezes. O segundo a ser encontrado foi o EGOÍSMO, pois sua caverna era, de fato, um gigantesco ninho de vespas que picou-o repetida vezes e ele teve que se revelar correndo.

Depois, escutou-se a FÉ, que não conseguia ficar quieta perto de Deus. Sentiu-se o vibrar do DESEJO na boca do vulcão, viu-se o TRIUNFO (pois é difícil escondê-lo por muito tempo) e, logo atrás dele, a INVEJA.

Cansada e com sede, a LOUCURA parou para tomar um gole de água e encontrou a BELEZA olhando-se no lago. A DÚVIDA, coitada, foi encontrada em cima de uma cerca sem se decidir de que lado devia se esconder.

E assim foram se encontrando os demais: O TALENTO entre as ervas frescas, a ANGÚSTIA numa cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris, mas alguns dizem que foi mesmo no fundo do oceano. O ESQUECIMENTO não foi encontrado.

O único que ainda não havia sido encontrado era o AMOR, que estava bem quietinho no seu esconderijo, esperando a hora certa para mostrar a cara. Completamente contrariada, a LOUCURA teve um acesso de si mesma e começou a vasculhar tudo com uma vara dura e seca, cutucando e batendo com força e violência em tudo à sua frente.

Ao agredir o roseiral, feriu gravemente os olhos do AMOR. Quando escutou aquele horrível grito de dor, logo percebeu a gravidade do seu ato. Pediu desculpas, perdão, chorou, rezou, implorou... mas o mal já estava feito. Sua única alternativa foi comprometer-se a ficar eternamente ao seu lado ajudá-lo no que fosse preciso.


Desde esse dia o AMOR é cego e a LOUCURA o acompanha!"



Eu em 1999.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sombras do fim de semana

Essa semana fomos bombardeados com a notícia da morte de 12 crianças no Rio de Janeiro pelas mãos de um atirador. A primeira reação é choque, revolta, indignação, dor. O caso ganha a mídia, chama nossa atenção, sofremos com as famílias, sofremos como nação. Só por um dia pensamos mais nos outros do que em nós mesmos. Só por um dia mesmo, porque chega a sexta-feira e a perspectiva do fim de semana começa a chamar mais nossa atenção. Show do Slash, balada, amigos, bebedeira, festival de teatro, diversão... O Rio de Janeiro e as crianças vão virando pequenhas sombras da nossa hipocrisia. Assim como o caso Nardoni, alguém lembra? 

Esse post é inspirado nas palavras de uma amiga no Facebook. Sem querer desdenhar a tragédia ela colocou o seguinte argumento: a mídia fez do caso um circo, morreram 12 pelas mãos de um louco, horrível, chocante, incompreensível até, e quantos morrem por negligência na saúde, segurança pública, trânsito, e ninguém noticia ou dá bola? 

Será que estamos tão acostumados com a violência e o descaso que escolhemos não nos importar? A verdade é que o que aconteceu no Rio de Janeiro essa semana foi uma tragédia que merece espaço na mídia, que merece nossa indignação. Mas será que já não é hora de olhar adiante, de perceber que temos que nossos problemas vão além de uma tragédia isolada que naturalmente é conseqüência de uma tragédia maior: a falta de estrutura que temos no nosso país. Quanta gente vive na miséria e ninguém faz nada? Quanta gente morre por falta de dinheiro pra arrumar hospitais enquanto o governo financia direta ou indiretamente a reforma de estádios para a copa do mundo? Sem falar em como enchemos os bolsos dos políticos. A gasolina vai chegar a R$ 3,00 e ninguém faz nada. Sabe o que está embutido nesse valor? Imposto que não vai ser repassado para o povo na forma de melhorias, e ai de quem disser que vai, me mostra que eu quero ver o que está sendo feito de bom com esse dinheiro, mas me mostra alguma coisa palpável porque de teatro já me basta a profissão.

Pelo amor de Deus, gente, o Japão refez uma rodovia em uma semana! O povo de Morretes está sofrendo com o resultado das enchentes há um mês! A passagem do ônibus aumentou e a frota continua a mesma, ou até pior. É o nosso dinheiro, é a nossa cidade, é o nosso país.

Se a gente não se unir pra fazer alguma coisa, vão continuar nos oferecendo pão e circo e as melhorias de verdade nunca vão chegar. As penitenciárias vão continuar lotadas de ladrões de galinha que vão sair e virar delinqüentes ainda piores dos que já temos nas ruas porque não têm oportunidades. Os alunos das escolas públicas vão continuar recebendo uma educação medíocre porque ninguém se importa. Ou só se importa até a sexta-feira chegar.

Infelizmente eu não tenho uma solução rápida. A única coisa que posso pedir é que a gente exija mais respeito, que a gente não se conforme com o pão e o circo e que a gente una nossas cabeças e nossas forças pra encontrar uma solução mesmo que a longo prazo, mesmo que a principio aconteça só no nosso bairro, na nossa comunidade.

Bom fim de semana pra todo mundo.