quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O que acontece com o Brasil é culpa sua

Não fica, é?
Hoje de manhã quando abri meu Facebook vi o post de um deputado dizendo que passaria o fim de semana viajando pelo interior a visitar festas e exposições regionais em três cidades e fazer a entrega de um prêmio em uma delas. Além de um encontro no Country Club de uma das cidades. As pessoas desejavam boa viagem e que Deus o acompanhasse. Pra ser bem sincera, meu primeiro pensamento foi: "e trabalhar de verdade que é bom, nada, né, senhor deputado?"

Eu fui covarde e não postei isso na página do excelentíssimo deputado, até porque eu já sei a resposta que receberia, que este é o trabalho dele, além de inúmeras mensagens de seus puxa-sacos que com certeza me crucificariam. Mas essa situação me fez refletir sobre uma coisa: enquanto a gente aceitar que o trabalho de um político é babar ovo e apertar a mão dos outros, não chegaremos a lugar algum.

Um deputado estadual ganha em média 20 mil reais. Sua função é propor, emendar, alterar, revogar e derrogar leis estaduais, elaborar e emendar a Constituição estadual, julgar anualmente as contas prestadas pelo Governador do Estado e interceder junto ao governador por liberações de verbas para obras de melhorias nos municípios.

Concordo que os políticos devem conhecer de perto a situação dos municípios pra que prestam o seu serviço, e não falo só dos deputados, agora estou generalizando mesmo, mas o que a gente vê todos os dias na TV e nos jornais são leis absurdas sendo julgadas as pressas enquanto problemas reais são deixados de lado. Ou você acha que estabelecer o "dia municipal do kung fu" e o "bolinho de carne como patrimônio cultural curitibano" são coisas urgentes? 

Enquanto aceitarmos calados (como eu fiz esta manhã e me arrependo) que o trabalho dos políticos brasileiros necessita de tanta pompa, protocolo e gastos e não cobrarmos soluções reais para problemas reais, nada vai mudar. O maior problema é que estamos tão acostumados com a situação, que nem nos damos ao trabalho de questionar.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Reencontrando o que eu chamava de fé...

Antes de começar, leia e ouça isso:





Se Um Dia Eu Deixar Este Mundo Vivo

Se um dia eu deixar este mundo vivo
Eu lhe agradecerei pelas coisas que fez em minha vida
Se um dia eu deixar este mundo vivo
Eu voltarei e sentarei ao seu lado esta noite
Não importa onde eu estiver, você será
sempre mais que uma memória
Se um dia eu deixar este mundo vivo

Se um dia eu deixar este mundo vivo
Vou superar toda a tristeza
que deixei para trás
Se um dia eu deixar este mundo vivo
Sua loucura logo desaparecerá
Então resumindo, não derrame uma lágrima
Eu estarei aqui quando as coisas ficarem estranhas
Se um dia eu deixar este mundo vivo

Então, quando estiver em dúvida, me chame
Antes que você vá à loucura
Se um dia eu deixar este mundo
Hey, eu posso nunca deixar esse mundo
Mas se um dia eu deixar este mundo vivo

Ela diz eu estou OK, eu estou bem
Embora você tenha ido da minha vida,
Você disse que tudo deveria
Agora tudo deve ficar bem

Ela diz eu estou OK, eu estou bem
Embora você tenha ido da minha vida,
Você disse que tudo deveria
Agora tudo deve ficar bem
Sim, vai ficar bem


Apesar de ter sido criada como católica, aos doze anos minha mãe me deu o direito de escolher se eu queria continuar frequentando a igreja aos domingos. Nessa época eu já estudava por conta própria fatos históricos como um hobbie e se tem uma coisa que a história me ensinou é que a Igreja Católica nem sempre (ou quase nunca) foi um símbolo puro da fé e sim algo completamente oposto a sua filosofia: poder e riqueza. Isso, eu confesso, me desapontou muito e fez com que eu me afastasse completamente desta instituição, antes mesmo de me crismar. Por outro lado, sempre busquei a iluminação e Deus, o que quer que isso signifique de verdade. Sempre me recusei a acreditar que ciência e fé sejam coisas completamente distintas. Como quando Thor fala para Jane que no seu mundo os dois são a mesma coisa e juntas são o que nós chamamos "mágica". Mas claro que isso é só um pensamento de histórias em quadrinhos e do cinema. E talvez meu.

Quando eu estava em Roma comecei a entrar em todas as igrejas que encontrava pela frente simplesmente pra ver a obra de arte e arquitetura que aqueles templos representavam, a história que aquelas construções contavam, sempre com meu guia em mãos ou um amigo pra me contar os fatos importantes do lugar. Eu não sei exatamente quando aconteceu, mas em algum momento eu simplesmente esqueci os fatos históricos e deixei o lugar me acolher. Era como se eu não estivesse mais realmente ali e conseguisse pensar.  Eu não me importei com as pessoas ao meu redor, com os barulhos da cidade. Eu podia ver as esculturas, as pinturas e todas remetiam pra minha reflexão interior. Comecei a pensar em quanta sorte eu tive e senti uma necessidade absurda de agradecer por estar ali, por ter alcançado tanta coisa, por ter chego tão longe. Eu até agradeci a todas as coisas ruins que tinham me acontecido até o momento, sem as quais eu não teria aprendido tanto e não seria a pessoa que sou hoje.

Então saí desta igreja com a alma mais leve e o coração menos apertado.

Depois disso passei a rezar. Ou melhor, conversar com Deus. Não que ele me responda da maneira convencional, mas toda vez que eu me encontrava em um lugar inspirador eu tinha uma palavra a dizer. E nos meus raros momentos de solidão também. E quando me dei conta eu estava em paz pela primeira vez em muito tempo.

Foi em uma igreja de Verona que as coisas começaram a se confundir na minha cabeça. Por que eu entrava tanto em igrejas e me sentia tão bem fazendo isso mas ainda assim não me sentia bem admitindo que eu era católica? E a resposta foi: porque você não é católica. Então o que eu sou? Humana. Uma humana que acredita em algo e não precisa de uma instituição pra provar sua fé. E isso é possível? (...) Já era tarde, a igreja estava quase fechando e o padre não parava de encarar a moça (eu) sentada há um tempão olhando pra uma escultura antiquíssima de Santo Antônio. Ele me perguntou se eu estava bem ou precisava conversar. Então este senhor de batina sentou ao meu lado e eu tive minha primeira conversa honesta com um padre. Não foi exatamente uma confissão, mas eu contei a ele minhas dúvidas, meus medos, partes da minha história que até minha família desconhece e como eu não era capaz de me conectar com a Igreja Católica, como eu acreditava na reencarnação, como eu ansiava pra encontrar aquela paz ao pensar no outro lado, que eu não estava sozinha. Este senhor teve uma paciência incrível pra ouvir tudo no meu italiano ruim e ele só me respondeu uma coisa: você está mais perto de Deus do que muita gente que frequenta a igreja todos os dias. Não existem verdades absolutas, mas só porque você não vê o vento não significa que não possa senti-lo.

Eu ainda não me sinto católica, mas eu percebi que eu não preciso de um rótulo pra me sentir conectada com o universo. E eu encontrei conforto.

Resolvi partilhar essa história aqui porque eu ainda me sinto um pouco perdida, mas pela primeira vez estou tentando encontrar de verdade um caminho, não só espiritual, mas pessoal, fazer algo pelos outros que também me torne uma pessoa melhor. Eu pensava que eu só sabia e só deveria atuar, mas existem outros caminhos que podem tocar meu coração. Eu perdi o medo de morrer sem deixar uma marca, as marcas que parecem mais sutis são as mais profundas. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Quando a gente sai do eixo...

"You know when you walk into a room and forget why you went in there?

That's God playing Sims, he just cancelled your action."
Pode acontecer naquele segundo em que você se distrai com o rádio e não vê o outro carro vindo. Pode acontecer quando você olha a sua volta e tudo que tem a dizer é adeus a pessoa que mais amava. E mais precisava. Pode acontecer quando o médico te dá o diagnóstico ou simplesmente quando você percebe que ele não te ama mais. Pode acontecer a qualquer hora... Mas a coisa mais certa do mundo é que algum dia, alguma coisa vai te tirar do teu eixo.  E aí você finge que nada aconteceu. Ao menos você tenta por um tempo. E quando não consegue mais fingir que ainda é o mesmo você tenta convencer Deus que Ele está cometendo um grande erro, isto não deveria acontecer com você. Seu destino já estava traçado.  Suas cartas não deveriam estar marcadas. E quando Deus não atende suas preces, você se enfurece, você até O renega. Você viaja, você foge, você se esconde, você encontra amantes e amores. E quando você percebe que nada vai mudar o que está vivendo, você aceita. Você vive cada segundo da sua dor. E é quando a mudança realmente acontece, quando a dor se transforma em força, em coragem pra continuar. Mas a coragem não vem de um lugar ou de uma circunstância, a coragem vem de você mesmo.

E se depois que a tempestade passasse e você estivesse pronto pros dias de sol, a tempestade voltasse com mais força? Você escolheria viver tudo isso novamente? Você passaria por toda a dor novamente? 

A maior parte das pessoas diria que não. Talvez eu também dissesse não. Mas pensando bem, foi a dor que formou a maior parte do meu caráter. Foi nos momentos mais difíceis que percebi quem estava ao meu lado de verdade e que eu aprendi as lições mais valiosas. É como aquela música do Pato Fu:

"As brigas que ganhei, nem um troféu, como lembrança, pra casa eu levei. As brigas que perdi, essas sim, eu nunca esqueci..."

Então, com tudo isso, eu concluo, na minha humilde opinião de espectadora do mundo, viva mais, ame mais, brigue mais, sofra mais, mas principalmente, sorria mais. Vá pra Itália pelo menos uma vez na sua existência. E ame, como se não houvesse amanhã.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Praia ou cemitério?

Uma das memórias mais vivas que eu tenho da minha infância tem relação com o feriado de finados. Todo ano nessa época eu lembro que minha mãe me colocava dentro do carro e nós íamos, junto com minha avó, pra Laranjeiras do Sul limpar e cuidar da capelinha da minha bisavó Vicentina no cemitério. Eu era só uma criança, só ia pra brincar no meio do cemitério, que era absolutamente fascinante pra mim e só Deus sabe porque. Mas essas pequenas viagens foram grandes escolas. Eu via como as mulheres tratavam o lugar com carinho, como escolhiam as rosas mais bonitas pra montar os vasos que enfeitavam o local. Apesar do trabalho duro, todo mundo fazia isso com orgulho, com um sorriso no rosto. E no meio de uma vassourada e outra elas falavam da Vó Vicenta, como carinhosamente chamavam minha bisavó. Ela morreu muito tempo antes de eu nascer, mas é como se ela tivesse feito parte de toda a minha infância. Quando penso nela, penso em uma senhora de longos cabelos trançados, vestido preto e branco, que fazia bolacha pras netas e sempre tinha muito carinho pra dar.

Os anos passaram e as capelinhas pra limpar foram aumentando em número. Eu continuei acompanhando o processo e através do dia de finados em família acabei conhecendo tios-avôs, primos distantes, escutei histórias dos membros da minha família, aprendi a conhecê-los mesmo que fisicamente eu talvez não os tenha visto uma vez sequer. Tive lições de coragem, amor e persistência. E eu também passei a admirá-los e honrá-los.

Os anos passaram, eu cresci, me mudei, estou longe demais pra acompanhar esse processo que se transformou em uma espécie de tradição e por algum tempo ignorei o dia de finados, pensando nele como se fosse apenas mais um feriado em que eu poderia ficar em casa ou ir pra praia. A cada ano eu vejo o Dia das Bruxas ganhar espaço entre festas e bebedeiras e esta data passa a ficar conhecida como o "dia da ressaca do feriado". Até pra mim. Então escrevo este texto...

Este dia foi criado pra que a gente lembrasse e honrasse as pessoas que fizeram parte da nossa vida, que foram importantes pro nosso crescimento, seja indo ao cemitério, tomando uma taça de vinho em sua homenagem, acendendo uma vela, fazendo uma oração... Cada um tem sua própria maneira. Eu não estou dizendo que você não possa fazer deste o dia da ressaca, a escolha é de cada um, mas não me custava nada te lembrar o verdadeiro motivo de você não estar indo pro trabalho.

A vida é tão curta e é tão difícil vivê-la intensamente porque a gente sempre tem a impressão que vai ter mais tempo. A novidade é que não temos. E aí paramos pra pensar como aproveitamos mal nosso tempo e o tempo com as pessoas a nossa volta.

Este é um texto de gratidão a todos aqueles que me ensinaram alguma coisa e àqueles que foram tirados de mim muito cedo, porque não importa quanto tempo passe, é sempre cedo demais pra dizer adeus.