segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Adoro estar errada

Todo mundo tem dias ruins, aqueles em que perdemos a fé na humanidade e em nós mesmos. Mas nem todo mundo sai postando num blog seus problemas. Talvez eu e o Mark Zuckerberg... A única diferença é que as postagens dele acabaram rendendo uma pequena fortuna no final. E um pé na bunda. mas estou feliz de ter feito o post anterior extremamente depressivo porque isso me mostrou o quanto eu estava errada.

No momento em que eu postei e repassei o link esperando que o mundo acabasse e me engolisse, na verdade o mundo me provou o contrário. Meus amigos, aqueles verdadeiros, começaram a me fazer sorrir. Foram músicas, histórias, anedotas ou simplesmente palavras de incentivo. Então, mais uma vez, o mundo me jogou na cara que por pior que esteja, vai melhorar. Sempre melhora. Eu já deveria ter aprendido que por mais que a vida pareça ruim, nenhuma tristeza dura pra sempre. E não tem desgraça maior do que a falta de fé.

Então aqui, me desculpo pelos momentos de pessimismo e garanto que não vão mais acontecer. Prometo.

Quero agradecer especialmente a Alessandra e a Suzan, minhas amigas mais antigas que esperaram 24 horas pra saber o que estava acontecendo. Sim, vocês são amigas de verdade. Por favor não me processem. E também aos meus amigos Francesco e Marcos de Peder pelas músicas e o desabafo.

Amanhã o sol vai nascer de novo galera e o mundo não vai acabar, por mais que doa.


domingo, 18 de dezembro de 2011

As pessoas não prestam

Não importa o que digam pra você, as pessoas não prestam e você nunca vai encontrar amor, amigos de verdade e a felicidade não existe. A vida é um purgatório. Injusta, dura, decepcionante. Então, que venha 2012 e que todas as profecias se realizem porque esse mundo e essa vida já deu o que tinha que dar.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

How do you measure a year? - Resoluções de ano novo

Meu 2011 em imagens.
Um ano. Doze meses. Cinquenta e duas semanas. Trezentos e sessenta e cinco dias. E quando Dezembro chega aposto que você também se pergunta onde foi parar esse tempo todo que passou tão rápido.

Eu ia escrever esse post mais perto (ainda) do fim do ano, mas decidi fazê-lo hoje porque um poeta me lembrou que a gente tem que aproveitar o dia porque em 24 horas tudo vai se tornar apenas uma memória, assim como 2011 lentamente fica pra trás, mas marcado pelas lembranças.

Então, se vocês quiserem me acompanhar, esse é um ano na vida desta que vos escreve e tudo que 2011 me ensinou.

Minha história começa a meia-noite, na virada do ano. 2010 foi, de longe, o pior ano da minha vida e eu estava ansiosa pra deixar tudo pra trás. Comecei 2010 literalmente dentro de um buraco na areia e terminei perdida na multidão, na mesma praia, sem uma garrafa de espumante, sem uma oferenda pra Iemanjá, sem noção do que estava fazendo. Tudo que eu tinha era um par de chifres cor-de-rosa (entendam como quiserem) e muita vontade de ir ao banheiro, mas nem tudo era tão ruim porque eu não estava sozinha, na verdade eu não poderia ter companhia melhor, minha prima Amanda. Minha virada de ano foi como uma profecia do que estava por vir, eu poderia estar me sentindo velha, perdida e um pouco triste, mas eu não estava sozinha, nunca estive e se você olhar a sua volta vai perceber que nunca estamos completamente sozinhos. Naquela noite, em silêncio e pra mim mesma, enquanto molhava os pés na água do mar, criei minha lista de resoluções e não tinha nada a ver com perder peso, beber menos ou parar de fumar. Minha resolução de ano novo foi algo que estava já tatuado na minha pele: let it be. Ou seja, em 2011 eu não iria sofrer mais. Eu ia viver.

Seria mais fácil ter pensado em emagrecer cinco quilos...

Você não aprende a não sofrer de uma hora pra outra, especialmente quando se passa a maior parte do tempo esperando que sua vida comece quando na verdade não vai ficar melhor do que isso, mas você está tão cego olhando pra um futuro que ainda não aconteceu que esquece de aproveitar o presente e fica pintando o passado de cor de rosa. E assim, o tempo passa, o ano voa e você não cumpre suas promessas, não vai atrás dos seus sonhos, não se transforma.

Com perdão da palavra, mas não encontro expressão melhor pra descrever o que eu fiz esse ano a não ser dizer que "taquei um foda-se" bem grande e segui em frente. Eu disse sim pra todas as oportunidades que apareceram. E no momento em que eu decidi fazer isso, a vida começou a acontecer. Eu fiz amigos, aprendi uma nova língua, conheci o Ozzy Osbourne, escrevi um livro (ou estou escrevendo), conheci um país novo, recuperei minha fé, comecei a construir uma nova carreira, ganhei um rosto novo e uma afilhada linda. Eu fecho 2011 com um saldo extremamente positivo, cinco quilos a menos e não posso pensar em nada melhor pra 2012. Isso me assusta um pouco. Mas a grande questão é, cumpri minha resolução de parar de sofrer?

Não, a verdade é que eu ainda sofro e mesmo com tantas coisas maravilhosas acontecendo comigo, eu ainda sinto dor. Eu ainda choro a noite e alguns dias ainda são cinzas. A grande diferença é que eu aprendi que a dor faz parte da vida e nos faz apreciar um pouco mais os bons momentos, assim como a saudade nos faz aproveitar mais os momentos que passamos com alguém que não vemos sempre. Estou aprendendo a cada dia como conviver com a dor, mas isso não é algo triste, é na verdade minha maior vitória.

Eu decidi partilhar essa história com vocês porque é fim de ano, a Globo já começou com a vinhetinha, anunciou o show do Roberto Carlos e a Coca-cola já lançou a campanha de Natal. Eu gostaria de dar a todos os meus amigos o maior presente que eu recebi: tempo. Você pode escolher o que fazer com o seu, mas saiba que por mais que você pense que é eterno e que as pessoas a sua volta também são, a verdade é que tudo tem inicio, meio e fim. Até nosso tempo. Então crie boas memórias, aproveite esse segundo, se dê ao luxo de pensar com o coração de vez em quando. Diga o que você pensa pra quem você ama. E ame mais. Nem todos nós vamos ser ricos e famosos, mas podemos ser felizes com o plano B. 

E agora estou parecendo propaganda de margarina.

Quanto a minha segunda resolução de ano novo, registrada aqui no blog nesse post de janeiro de 2011
(http://diretodobaldeazul.blogspot.com/2011/01/2011-filosofia-de-boteco-se-voce-trai.html) eu culpo o álcool por não ter cumprido. Pelo menos, nenhum camelo esse ano...

E pra terminar de ilustrar esse melodrama de fim de ano, deixo um vídeo da música "Seasons of Love",  do R.E.N.T, que resume tudo isso.






quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Salvem os caras legais!

Ah, l'amour! 
Aquele frio na barriga que não passa, o impulso de não desgrudar do telefone, aquele sorriso idiota que estaciona no rosto... As músicas bregas que não saem da cabeça e o relógio que não coopera pro tempo passar e você finalmente encontrar aquele que domina seus pensamentos, que tira teu sono, tua fome, teu chão e te faz ver o mundo mais cor de rosa, as pessoas mais bonitas, te faz desejar ser uma pessoa melhor e mais bonita. Faz até o seu chefe parecer menos mala e "Twilight" menos gay. 
Estar apaixonado é como estar constantemente bêbado... O problema é que assim como quando você está bêbado, tem o perigo da ressaca no dia seguinte. E a ressaca de amor é muito pior do que a da bebida. 

Até a noite passada eu podia jurar que ressaca de amor era algo exclusivamente feminino. E as garotas que lêem o blog vão concordar comigo que os homens são profissionais na arte de nos fazer pensar que seus corações são feitos de pedra. Ou você acha que eles deixam de ligar por acaso ou que mantém o telefone da ex na agenda do celular só porque esqueceram de apagar? Claro que não! Ou é pra nos irritar (e eles sabem como isso nos irrita) ou é porque eles não estão muito a fim da gente mesmo... Qualquer que seja o caso, só nos faz pensar que eles têm um coração de pedra e uma alma negra.

E talvez porque a gente tenha cansado de sentar e esperar alguma coisa mudar na cabeça de um homem, nós mulheres evoluímos na arte de fazer um homem sofrer. Rastejar. Implorar. Colocar um grande diamante em um dedo muito especial. Sim, meninas, a batalha foi ganha! Os homens aprenderam a sentir. Mas será que a gente quer mesmo dar o troco?

Já sofri muito na mão de homem, por isso não tenho pena de fazer terrorismo de vez em quando, desde que o cara mereça. Só que eu tenho um amigo que comeu o pão que o diabo amassou, cuspiu e passou nutella recheada com caco de vidro, na mão de uma mulher. Se eu reunisse todos os homens que me magoaram de alguma maneira, ainda assim, nenhum deles fez algo tão tenebroso como essa garota fez com meu amigo. Tá, talvez um tenha se aproximado bastante. Mas eu já coloquei um bonequinho vodu com o nome dele. (sorriso sarcástico)

Mais surpreendente do que o Keanu Reeves sendo capaz de demonstrar qualquer emoção variada foi descobrir que apesar de tudo que ela fez, ele ainda gosta dela. Não é que ele queira voltar pra ela, mas ele gosta dela pra caramba. E ele é um cara tão legal, o último romântico capaz de grandes gestos pela mulher que ele ama. Sabe Hunfrey Bogart no final de Casablanca, desistindo da própria felicidade pra Ingrith Bergman ser feliz? É ele, sem a nuvem de fumaça.

Só que ainda pior do que isso, foi descobrir que ele não é nenhuma exceção.  Outros caras legais pra caramba estão sofrendo nas mãos de mulheres horríveis, Medéias modernas. Elas estão destruindo os últimos caras legais, fazendo eles se sentirem culpados porque não podem dar tudo que elas querem e o que eles podem dar não é o suficiente. E por que eu fico revoltada mesmo tendo eu sofrido tanto nas mãos de homens? Porque eu pesei as coisas e percebi que eu sofri por, perdão da palavra, bundões. Caras que fazem uma mulher se sentir mal simplesmente pelo prazer de fazê-lo e se sentir o garanhão. Você acha que eles não existem? Ah, eles existem, a maioria é assim na verdade. Seria muito mais simples se a gente pudesse generalizar, mas infelizmente não dá. 

Eu poderia escrever aqui um post de auto-ajuda só pros homens, ilustrando a complexidade do universo feminino, o que a gente faz pra chamar a atenção, pra eles sentirem ciúmes, pra eles colocarem o anel no nosso dedo. Mas se eu fizesse isso, colocaria a gente em uma posição complicada, entregaria de bandeja as únicas armas que temos pra nos defender dos bundões citados acima. Agora você se pergunta por que diabos eu estou escrevendo tanto e não estou dizendo muita coisa? Porque o objetivo deste post é só apontar pra vocês que ainda existem caras legais no mundo que não querem que você seja mais um número no caderninho preto. Querem que você seja a exceção. Basta você se abrir.

Em época de movimentos pra salvar os índios, os pandas e tantos outros seres desse mundo, eu faço aqui um apelo: SALVEM OS CARAS LEGAIS!

Como reconhecer um cara legal:

1) Ele vai pagar a conta e vai te buscar em casa. Um cara legal NUNCA vai te pedir dinheiro emprestado ou te fazer atravessar a cidade pra ir busca-lo. (lembrem-se, uma ou outra vez quando o carro dele está na oficina não faz dele um cara ruim!)

2) Por mais que esteja ocupado ele vai se comunicar com você, nem que seja as duas da manhã, nem que seja um emoticon via SMS ao meio-dia, só pra mostrar que não te esqueceu. Um cara legal não vai fazer você se sentir ignorada.

3) Ele vai deixar claro pras amigas que está com você. Outras fêmeas podem até se aproximar de maneira fraternal, mas não vai passar disso. Um cara legal pode até te fazer sentir um pouco de ciúme, mas sempre vai ser só um pouco, nada que te faça sair por aí cometendo assassinatos.

4) Um cara legal vai perguntar como foi seu dia. Sempre. Ele vai estar interessado em saber o que você faz quando não está com ele.

5) Ser um cara legal não quer dizer que ele vá te tratar como uma irmã ou um ser assexuado, mas cuidado com caras que só estão fingindo ser legais até conseguirem o que querem: levar você pra cama.

6) Um cara legal não vai tentar te mudar. Mas também não tente muda-lo. 

7) Um cara legal não é aquele que te acompanha na pré-estreia da comedia romântica da estação, que por sinal ele não têm a mínima vontade de assistir, mas aquele que permite que você vá com a sua amiga sem dar ataque de ciúmes.

8) E por fim, só pra resumir, um cara legal não vai tentar te enrolar ou mentir pra você sobre seus planos pro fim de semana. A sinceridade vai ser constante, mesmo que as vezes a verdade não seja exatamente o que você espera ouvir.

Bom meninas, é só o que eu posso fazer no momento, e se faço isso é porque eu também tenho a esperança de que em algum canto do mundo exista um cara legal que está reservado pra mim. Espero que nenhuma vadia o destrua antes dele me conhecer.

Ah, sim, tudo isso que eu falei, meus apelos, valem só pros caras realmente legais. Os outros, podem jogar pros leões, fazer macumba e se divertir pisando em cima. Eles merecem.


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O que acontece com o Brasil é culpa sua

Não fica, é?
Hoje de manhã quando abri meu Facebook vi o post de um deputado dizendo que passaria o fim de semana viajando pelo interior a visitar festas e exposições regionais em três cidades e fazer a entrega de um prêmio em uma delas. Além de um encontro no Country Club de uma das cidades. As pessoas desejavam boa viagem e que Deus o acompanhasse. Pra ser bem sincera, meu primeiro pensamento foi: "e trabalhar de verdade que é bom, nada, né, senhor deputado?"

Eu fui covarde e não postei isso na página do excelentíssimo deputado, até porque eu já sei a resposta que receberia, que este é o trabalho dele, além de inúmeras mensagens de seus puxa-sacos que com certeza me crucificariam. Mas essa situação me fez refletir sobre uma coisa: enquanto a gente aceitar que o trabalho de um político é babar ovo e apertar a mão dos outros, não chegaremos a lugar algum.

Um deputado estadual ganha em média 20 mil reais. Sua função é propor, emendar, alterar, revogar e derrogar leis estaduais, elaborar e emendar a Constituição estadual, julgar anualmente as contas prestadas pelo Governador do Estado e interceder junto ao governador por liberações de verbas para obras de melhorias nos municípios.

Concordo que os políticos devem conhecer de perto a situação dos municípios pra que prestam o seu serviço, e não falo só dos deputados, agora estou generalizando mesmo, mas o que a gente vê todos os dias na TV e nos jornais são leis absurdas sendo julgadas as pressas enquanto problemas reais são deixados de lado. Ou você acha que estabelecer o "dia municipal do kung fu" e o "bolinho de carne como patrimônio cultural curitibano" são coisas urgentes? 

Enquanto aceitarmos calados (como eu fiz esta manhã e me arrependo) que o trabalho dos políticos brasileiros necessita de tanta pompa, protocolo e gastos e não cobrarmos soluções reais para problemas reais, nada vai mudar. O maior problema é que estamos tão acostumados com a situação, que nem nos damos ao trabalho de questionar.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Reencontrando o que eu chamava de fé...

Antes de começar, leia e ouça isso:





Se Um Dia Eu Deixar Este Mundo Vivo

Se um dia eu deixar este mundo vivo
Eu lhe agradecerei pelas coisas que fez em minha vida
Se um dia eu deixar este mundo vivo
Eu voltarei e sentarei ao seu lado esta noite
Não importa onde eu estiver, você será
sempre mais que uma memória
Se um dia eu deixar este mundo vivo

Se um dia eu deixar este mundo vivo
Vou superar toda a tristeza
que deixei para trás
Se um dia eu deixar este mundo vivo
Sua loucura logo desaparecerá
Então resumindo, não derrame uma lágrima
Eu estarei aqui quando as coisas ficarem estranhas
Se um dia eu deixar este mundo vivo

Então, quando estiver em dúvida, me chame
Antes que você vá à loucura
Se um dia eu deixar este mundo
Hey, eu posso nunca deixar esse mundo
Mas se um dia eu deixar este mundo vivo

Ela diz eu estou OK, eu estou bem
Embora você tenha ido da minha vida,
Você disse que tudo deveria
Agora tudo deve ficar bem

Ela diz eu estou OK, eu estou bem
Embora você tenha ido da minha vida,
Você disse que tudo deveria
Agora tudo deve ficar bem
Sim, vai ficar bem


Apesar de ter sido criada como católica, aos doze anos minha mãe me deu o direito de escolher se eu queria continuar frequentando a igreja aos domingos. Nessa época eu já estudava por conta própria fatos históricos como um hobbie e se tem uma coisa que a história me ensinou é que a Igreja Católica nem sempre (ou quase nunca) foi um símbolo puro da fé e sim algo completamente oposto a sua filosofia: poder e riqueza. Isso, eu confesso, me desapontou muito e fez com que eu me afastasse completamente desta instituição, antes mesmo de me crismar. Por outro lado, sempre busquei a iluminação e Deus, o que quer que isso signifique de verdade. Sempre me recusei a acreditar que ciência e fé sejam coisas completamente distintas. Como quando Thor fala para Jane que no seu mundo os dois são a mesma coisa e juntas são o que nós chamamos "mágica". Mas claro que isso é só um pensamento de histórias em quadrinhos e do cinema. E talvez meu.

Quando eu estava em Roma comecei a entrar em todas as igrejas que encontrava pela frente simplesmente pra ver a obra de arte e arquitetura que aqueles templos representavam, a história que aquelas construções contavam, sempre com meu guia em mãos ou um amigo pra me contar os fatos importantes do lugar. Eu não sei exatamente quando aconteceu, mas em algum momento eu simplesmente esqueci os fatos históricos e deixei o lugar me acolher. Era como se eu não estivesse mais realmente ali e conseguisse pensar.  Eu não me importei com as pessoas ao meu redor, com os barulhos da cidade. Eu podia ver as esculturas, as pinturas e todas remetiam pra minha reflexão interior. Comecei a pensar em quanta sorte eu tive e senti uma necessidade absurda de agradecer por estar ali, por ter alcançado tanta coisa, por ter chego tão longe. Eu até agradeci a todas as coisas ruins que tinham me acontecido até o momento, sem as quais eu não teria aprendido tanto e não seria a pessoa que sou hoje.

Então saí desta igreja com a alma mais leve e o coração menos apertado.

Depois disso passei a rezar. Ou melhor, conversar com Deus. Não que ele me responda da maneira convencional, mas toda vez que eu me encontrava em um lugar inspirador eu tinha uma palavra a dizer. E nos meus raros momentos de solidão também. E quando me dei conta eu estava em paz pela primeira vez em muito tempo.

Foi em uma igreja de Verona que as coisas começaram a se confundir na minha cabeça. Por que eu entrava tanto em igrejas e me sentia tão bem fazendo isso mas ainda assim não me sentia bem admitindo que eu era católica? E a resposta foi: porque você não é católica. Então o que eu sou? Humana. Uma humana que acredita em algo e não precisa de uma instituição pra provar sua fé. E isso é possível? (...) Já era tarde, a igreja estava quase fechando e o padre não parava de encarar a moça (eu) sentada há um tempão olhando pra uma escultura antiquíssima de Santo Antônio. Ele me perguntou se eu estava bem ou precisava conversar. Então este senhor de batina sentou ao meu lado e eu tive minha primeira conversa honesta com um padre. Não foi exatamente uma confissão, mas eu contei a ele minhas dúvidas, meus medos, partes da minha história que até minha família desconhece e como eu não era capaz de me conectar com a Igreja Católica, como eu acreditava na reencarnação, como eu ansiava pra encontrar aquela paz ao pensar no outro lado, que eu não estava sozinha. Este senhor teve uma paciência incrível pra ouvir tudo no meu italiano ruim e ele só me respondeu uma coisa: você está mais perto de Deus do que muita gente que frequenta a igreja todos os dias. Não existem verdades absolutas, mas só porque você não vê o vento não significa que não possa senti-lo.

Eu ainda não me sinto católica, mas eu percebi que eu não preciso de um rótulo pra me sentir conectada com o universo. E eu encontrei conforto.

Resolvi partilhar essa história aqui porque eu ainda me sinto um pouco perdida, mas pela primeira vez estou tentando encontrar de verdade um caminho, não só espiritual, mas pessoal, fazer algo pelos outros que também me torne uma pessoa melhor. Eu pensava que eu só sabia e só deveria atuar, mas existem outros caminhos que podem tocar meu coração. Eu perdi o medo de morrer sem deixar uma marca, as marcas que parecem mais sutis são as mais profundas. 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Quando a gente sai do eixo...

"You know when you walk into a room and forget why you went in there?

That's God playing Sims, he just cancelled your action."
Pode acontecer naquele segundo em que você se distrai com o rádio e não vê o outro carro vindo. Pode acontecer quando você olha a sua volta e tudo que tem a dizer é adeus a pessoa que mais amava. E mais precisava. Pode acontecer quando o médico te dá o diagnóstico ou simplesmente quando você percebe que ele não te ama mais. Pode acontecer a qualquer hora... Mas a coisa mais certa do mundo é que algum dia, alguma coisa vai te tirar do teu eixo.  E aí você finge que nada aconteceu. Ao menos você tenta por um tempo. E quando não consegue mais fingir que ainda é o mesmo você tenta convencer Deus que Ele está cometendo um grande erro, isto não deveria acontecer com você. Seu destino já estava traçado.  Suas cartas não deveriam estar marcadas. E quando Deus não atende suas preces, você se enfurece, você até O renega. Você viaja, você foge, você se esconde, você encontra amantes e amores. E quando você percebe que nada vai mudar o que está vivendo, você aceita. Você vive cada segundo da sua dor. E é quando a mudança realmente acontece, quando a dor se transforma em força, em coragem pra continuar. Mas a coragem não vem de um lugar ou de uma circunstância, a coragem vem de você mesmo.

E se depois que a tempestade passasse e você estivesse pronto pros dias de sol, a tempestade voltasse com mais força? Você escolheria viver tudo isso novamente? Você passaria por toda a dor novamente? 

A maior parte das pessoas diria que não. Talvez eu também dissesse não. Mas pensando bem, foi a dor que formou a maior parte do meu caráter. Foi nos momentos mais difíceis que percebi quem estava ao meu lado de verdade e que eu aprendi as lições mais valiosas. É como aquela música do Pato Fu:

"As brigas que ganhei, nem um troféu, como lembrança, pra casa eu levei. As brigas que perdi, essas sim, eu nunca esqueci..."

Então, com tudo isso, eu concluo, na minha humilde opinião de espectadora do mundo, viva mais, ame mais, brigue mais, sofra mais, mas principalmente, sorria mais. Vá pra Itália pelo menos uma vez na sua existência. E ame, como se não houvesse amanhã.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Praia ou cemitério?

Uma das memórias mais vivas que eu tenho da minha infância tem relação com o feriado de finados. Todo ano nessa época eu lembro que minha mãe me colocava dentro do carro e nós íamos, junto com minha avó, pra Laranjeiras do Sul limpar e cuidar da capelinha da minha bisavó Vicentina no cemitério. Eu era só uma criança, só ia pra brincar no meio do cemitério, que era absolutamente fascinante pra mim e só Deus sabe porque. Mas essas pequenas viagens foram grandes escolas. Eu via como as mulheres tratavam o lugar com carinho, como escolhiam as rosas mais bonitas pra montar os vasos que enfeitavam o local. Apesar do trabalho duro, todo mundo fazia isso com orgulho, com um sorriso no rosto. E no meio de uma vassourada e outra elas falavam da Vó Vicenta, como carinhosamente chamavam minha bisavó. Ela morreu muito tempo antes de eu nascer, mas é como se ela tivesse feito parte de toda a minha infância. Quando penso nela, penso em uma senhora de longos cabelos trançados, vestido preto e branco, que fazia bolacha pras netas e sempre tinha muito carinho pra dar.

Os anos passaram e as capelinhas pra limpar foram aumentando em número. Eu continuei acompanhando o processo e através do dia de finados em família acabei conhecendo tios-avôs, primos distantes, escutei histórias dos membros da minha família, aprendi a conhecê-los mesmo que fisicamente eu talvez não os tenha visto uma vez sequer. Tive lições de coragem, amor e persistência. E eu também passei a admirá-los e honrá-los.

Os anos passaram, eu cresci, me mudei, estou longe demais pra acompanhar esse processo que se transformou em uma espécie de tradição e por algum tempo ignorei o dia de finados, pensando nele como se fosse apenas mais um feriado em que eu poderia ficar em casa ou ir pra praia. A cada ano eu vejo o Dia das Bruxas ganhar espaço entre festas e bebedeiras e esta data passa a ficar conhecida como o "dia da ressaca do feriado". Até pra mim. Então escrevo este texto...

Este dia foi criado pra que a gente lembrasse e honrasse as pessoas que fizeram parte da nossa vida, que foram importantes pro nosso crescimento, seja indo ao cemitério, tomando uma taça de vinho em sua homenagem, acendendo uma vela, fazendo uma oração... Cada um tem sua própria maneira. Eu não estou dizendo que você não possa fazer deste o dia da ressaca, a escolha é de cada um, mas não me custava nada te lembrar o verdadeiro motivo de você não estar indo pro trabalho.

A vida é tão curta e é tão difícil vivê-la intensamente porque a gente sempre tem a impressão que vai ter mais tempo. A novidade é que não temos. E aí paramos pra pensar como aproveitamos mal nosso tempo e o tempo com as pessoas a nossa volta.

Este é um texto de gratidão a todos aqueles que me ensinaram alguma coisa e àqueles que foram tirados de mim muito cedo, porque não importa quanto tempo passe, é sempre cedo demais pra dizer adeus.


quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quando a mágica acontece

O mês era janeiro e eu estava vivendo um dos piores momentos da minha vida. Meu emprego não me emocionava, meus amigos eram poucos e ocupados com a agitação de suas próprias vidas e meu coração estava seriamente partido. Então, como sempre faço nas piores fases da vida, recorri ao cinema pra encontrar conforto e me inspirar. Foi uma longa maratona de filmes de auto-ajuda sobre mulheres que se redescobriam e se reinventavam em tempos difíceis. Protagonistas com quem eu me identificava, mulheres que representavam a pessoa que eu desejava me tornar. O que eu deveria fazer pra ser como elas? Eu já havia tentado fazer um filme, uma plástica, mudar de carreira, tomar anti depressivos e até redecorar a minha casa, mas depois de algum tempo a frustração voltava e o medo de viver também. Foi em uma tarde preguiçosa de domingo que uma lâmpada brilhou sob a minha cabeça e eu descobri o que todas elas partilhavam: todas tiveram coragem de mudar sua rotina. "Sob o Sol da Toscana", "Cartas para Julieta", "A Princesa e o Plebeu" e "Comer Rezar Amar" também tinham um ponto em comum, a Itália. A ideia tímida amadureceu.

Naquela tipica segunda-feira cinzenta, comprei uma passagem e me inscrevi em um curso de italiano através do teatro em Roma, que só começaria dali nove meses. Assim, eu teria tempo suficiente pra guardar dinheiro, preparar meus pais pra ficar um mês longe da filhinha depressiva e, principalmente, tomar coragem pra fazer algo diferente.

Os meses voaram e meu estado de espírito não evoluiu tanto quanto eu esperava, mas no dia 24 de setembro de 2011, as 8:15 da manhã, entrei em um avião com apenas uma certeza: conheceria um novo lugar, teria tempo pra pensar, escrever e me encontrar. O plano inicial era aproveitar os próximos vinte dias comigo mesma e aprender a me conhecer.

Logo no primeiro dia descobri que Roma encanta. E caminhando literalmente sem saber onde chegaria avistei o Coliseu. Foi nesse momento que a ficha caiu, eu não estava mais em casa. E eu estava sozinha com meus pensamentos. Naquele domingo vaguei pela cidade vendo monumentos, praças, pessoas. E encontrei o lugar que mais me inspirou, o Pincio, onde pude ver a cidade toda sob a luz do pôr do sol. Eu era a protagonista do meu próprio filme e as mudanças começavam a acontecer. Depois disso voltei neste lugar mais três vezes e cada uma delas acrescentou um novo capítulo a minha história.

Nestes vinte dias eu descobri que nem só de monumentos é feita a mágica de Roma, ela também carrega muitos sabores. Tive vários relacionamentos com minhas pizzas, minhas pastas e especialmente com meu vinho. Ou alcool, já que o vinho e eu não éramos exatamente exclusivos. Uma noite, quando a saudade de casa bateu, descobri o limoncello. "Sweet and dangerous".

Sim, Roma é maravilhosa. Mas Roma foi apenas o cenário dessa peça que começou a se articular naquele domingo. A verdadeira mudança aconteceu graças ao impacto das pessoas que cruzaram meu caminho nestes vinte dias.

Shakespeare diria que os amigos são a família que nos permitiram escolher. Eu tenho uma segunda família maravilhosa na Itália, podemos não compartilhar o mesmo sangue, mas compartilhamos o mesmo vinho. E eles foram generosos o bastante pra compartilhar sua sabedoria comigo.

Antes de ir pra Roma pensava ser filha única. Acontece que Deus me deu uma irmã mais nova, meio napolitana e meio islandesa chamada Valentina Tinganelli. Ela e o namorado de nome impronunciável, Eyjólfur, dividiram o apartamento comigo por duas semanas. Ambos são engraçados, generosos, extremamente adoráveis e me mostraram que nem sempre a solidão é o melhor caminho pra se descobrir. Quem diria que a melhor bruschetta que eu comeria na Itália seria preparada por uma islandesa? O que vou dizer agora é bem piegas, mas a mais pura verdade. Quando eu chorei, ela segurou minha mão e me fez acreditar que ia ficar tudo bem e quando eu ri, ela riu comigo. E o Eyjólfur nos fez rir. Eu os trouxe comigo no coração para o Brasil e abençoado seja Mark Zukemberg pelo Facebook!

Uma das pessoas mais interessantes que eu conheci em Roma foi justamente um belga chamado, pasmem, Sérgio. Pra mim isso era nome de brasileiro. Pra descrevê-lo eu precisaria das habilidades de Michelangelo ao criar seu Davi, o que foi um pouco prejudicial pra nossa amizade no início, já que eu nunca confiei muito em homens bonitos demais. Sempre tive a impressão que homem bonito é burro e egocêntrico. Mordi a língua três vezes depois disso! O Sergio é uma pessoa maravilhosa, engraçado, companheiro de vinho da hora do almoço, festeiro como o resto de nós e que realmente derrubou meu preconceito sobre homens bonitos e bem vestidos, se heterossexuais, serem burros. Ah, sim, ele pretende vir ao Brasil pro carnaval e se alguma menina estiver interessada em uma senha... hehehe

Do meu passado encontrei um antigo amigo com quem converso há 10 anos. Colocar uma face a uma amizade tão longa é realmente algo mágico e fico feliz que o passado sempre tenha um lugar no presente.

Se Elizabeth Gilbert teve um Luca Spaghetti pra mostrar a verdadeira Roma, eu tive um Francesco. Na verdade eu tive dois, mas o Secondo foi realmente um tipico romano que adora futebol e me levou pra conhecer os monumentos caminhando a noite, me fazendo ver Roma sob uma nova perspectiva. E não tiramos nenhuma foto pra colocar no livro de memórias... Mas certamente jamais esquecerei o verdadeiro café italiano, o Panteão e o bolo que ele me deu porque tinha que jogar futebol. Mas ainda assim, quando eu voltar, vamos jantar.

E teve também o Luca que não é Spaghetti. Este é realmente uma figura! Um rapaz um pouco tímido a primeira vista, com um sorriso doce, fala mansa e habilidades culinárias incríveis. Uma das coisas mais interessantes sobre o Luca é como ele come. Sério, é um espetáculo a parte, a forma como calmamente aprecia a comida, como descobre os sabores, como a maioria dos italianos não tem pressa na hora da refeição. Talvez seja esse o segredo pra se manter em forma na Itália, manter a calma e sentir prazer. O Luca me deu meu momento mais "La Dolce Vita" na Itália, me levando pra conhecer Roma na garupa de uma moto (sério, se você conhece o transito de Roma vai entender por que eu tenho muito medo disso).  Ele me mostrou ainda que viver intensamente não é viver sem medo, é simplesmente ter coragem suficiente pra supera-lo e aproveitar o momento. Basicamente, "let it be".

E claro que eu não posso esquecer da Célia, uma paulista que me acompanhou nas compras, no vinho e nas histórias românticas sobre a Itália.

Mas um roteiro perfeito tem sempre aquela pessoa que cataliza a história, o braço direito do protagonista. Roma me presenteou com o melhor amigo que eu poderia querer, uma alma gêmea fraterna chamada Amyntor Bastos. Esse paraense descolado foi a pessoa que mais me ensinou nessa viagem toda, e se eu tive o melhor fim de semana e a melhor experiência da minha vida, em parte foi graças a ele. Foi quem me lembrou que a força pra realizar nossos desejos está dentro de nós mesmos, assim como a nossa felicidade verdadeira. Ele é um exemplo de perseverança, uma lição de vida, um lutador sábio que me mostrou como aceitar o inesperado de braços abertos. Eu não poderia querer um companheiro de viagem melhor. Foi um prazer conhecer Pompéia ao lado dele, fotografar o "mar" de Nápoles, falar palavras inconvenientes em italiano, procurar o melhor tiramisú e, principalmente, beber vinho em Trastevere em meio a conversas intermináveis. Talvez a lição mais significativa que ele tenha me dado ninguém entenda, mas vou postar mesmo assim: "Florença é velha e sobreviveu a guerras, pestes e terremotos. É bem provável que ainda esteja lá quando você voltar pra Itália." Sei mio vero amico romano e abiti nel mio cuore per sempre.

Valentina, Eyjólfur, Sergio, eu e Amyntor em Trastevere.

A garota que entrou no avião a caminho de Roma em setembro não foi a garota que desceu do avião em Curitiba em outubro. Graças a essas pessoas maravilhosas e a essa experiência pra lá de mágica descobri que tudo bem chorar, desde que você também saiba sorrir, que finais felizes são uma questão de perspectiva e que tudo acontece quando tem que acontecer.

Nossa vida é sim como um filme, enquanto estamos esperando ela acontecer na verdade ela já está acontecendo, os momentos difíceis são na verdade necessários pra nos ajudar a crescer e apreciar mais os bons momentos e as pessoas a nossa volta. Se não consegue levantar, comece a revolução da própria cama.

Obrigada meus amigos, espero que a minha experiência seja útil pra alguém. Não digo que você precise cruzar um oceano pra perceber isso, basta simplesmente se arriscar a fazer algo que jamais pensou que fosse capaz.





quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Guerra do Som: exército de vagabundos X exército de corruptos

Recentemente teve início em Curitiba uma verdadeira caça às bruxas com a polêmica condenação da música ao vivo nos bares e restaurantes da cidade, alguns chegando a ser fechados por este motivo, como o Beto Batata do Alto da XV. Não me manifestei sobre o assunto antes porque não considero minha opinião algo imparcial, visto que, como esses músicos que tocam na noite, também ganho a vida através da arte. Porém assisti uma acalorada discussão sobre o assunto e me senti ofendida quando um político, cujo nome não será citado, mas que defende a proibição total de música ao vivo em qualquer bar ou restaurante (ele está inclusive propondo um projeto de lei pra que isso aconteça), chamou a classe artística de "vagabundos".  Mas essa parte da conversa vamos mencionar adiante, primeiro vamos nos ater na "Lei do silêncio". 

Só quem já morou ao lado de um bar ou casa noturna pra saber o quanto isso pode ser irritante. Você trabalha a semana toda e no fim de semana, quando finalmente tem um tempinho pra relaxar, é privado por sons e baderna. Mais de uma vez chegaram a urinar na porta da minha casa. Todo domingo de manhã era abrir a porta e se deparar com lixo e algumas coisas nojentas, como preservativos usados, pelo caminho. Sim, eu morei por mais de um ano ao lado de um bar, eu entendo a reivindicação dessas pessoas. 

Por outro lado, sou filha de um músico que tocou muito tempo na noite e que chegou a ter um bar. Sempre o acompanhei, desde criança e uma coisa posso dizer com orgulho: em quase cinco anos os vizinhos nunca reclamaram do barulho no restaurante do meu pai, mesmo tendo música direto. E olha que a gente não tinha isolamento acústico. Na verdade o isolamento acústico chamava-se bom senso. Uma coisa que aprendi com meu pai durante esses anos é que o bom músico toca em um volume agradável, que permita uma conversa civilizada entre as pessoas que estão ouvindo, afinal, você vai pra um bar pra encontrar os amigos, não pra ouvir bate estaca e sair com dor de cabeça, pra isso existem as casas noturnas, os shows de rock, onde ninguém precisa conversar, só curtir o som.

Outra conclusão que tirei nesses anos todos é que o maior incômodo não vinha da música em si, essa você até releva desde que o volume não esteja exageradamente alto, o grande problema é que onde tem bar tem bebida, onde tem bebida tem gente, onde tem gente bebada tem falta de educação, barulho e imprudência no trânsito (sério, custa deixar pra queimar o combustível da sua Harley no motoclube? É sacanagem ficar acelerando a meia noite na frente da minha casa!). O grande vilão da história aqui me parece ser o próprio ser humano, que não se contenta em ouvir um som e bater um papinho com os amigos em um volume razoável, ele tem que extrapolar, ir até as últimas conseqüências, porque ele é jovem, ele é o tal, a ele as regras não se aplicam. Mas isso vem de casa. Isso se chama EDUCAÇÃO. Entender que meu direito vai só até onde começa o do outro.

Pois bem, agora vamos a grande polêmica: vizinhos e botecos podem coexistirem? SIM, mas vai exigir sacrifícios dos dois lados. Isolar acústicamente os bares funciona, porém é um investimento grande e dependendo do local até desnecessário, visto que bastaria um pouco de bom senso dos músicos pra baixar o volume depois das 23 horas (vou repetir: show e música ao vivo são duas coisas diferentes e aqui eu estou discutindo só o som ambiente, aquele que você ouve enquanto toma um chopinho e bate um papo com os amigos). Brasileiro tem mania de sair de casa tarde, o que agrava o problema, já que a "festa" começa de verdade depois da meia-noite.

Na minha humilde opinião ambas as partes vão ter que ceder. Os bares que quiserem ter shows de bandas vão ter que investir em isolamento sim, mas o pessoal só da música ao vivo pode muito bem ceder um pouquinho também e baixar o volume, isso é até saudável. Já os vizinhos podem tolerar um pouco de barulho até as 22 horas. E quem poderia auxiliar muito com a algazarra que acontece fora do bar é a polícia e a guarda municipal, que deveria estar presente nas proximidades dos bares até mesmo em função das pessoas que dirigem alcoolizadas.

Agora preciso muito falar sobre o "artista vagabundo". Fico muito triste quando toco nesse assunto porque parece mesmo que os artistas de todas as classes vão carregar esse título pro resto da vida, mas o que mais me dói é saber que a culpa é da própria classe artística. Ou melhor, é culpa dos falsos artistas, que um belo dia acordaram, acenderam um cigarro e disseram: vou ser cantor ou vou ser ator (especialmente este último). E porque o cara tem um violão ou porque fez um curso livre de teatro concede a si mesmo o título de artista e sai por aí difamando nossa classe, enchendo a cara, dando escândalo e culpando a "alma artística torturada". Vai culpar sua mãe por não ter te dado uma educação melhor!

Mas tirando essas maçãs podres no nosso cesto, gostaria de responder a quem pensa que artista é vagabundo com o esclarecimento de alguns fatos. Pra ser um músico respeitável, por exemplo, você precisa estudar diariamente. Pra se formar em piano o aluno freqüenta o conservatório de música, que na maior parte das vezes é pago e não é barato, estudando por 11 anos. Sim, um pianista estuda mais tempo que um médico. Quase o dobro. David Garrett, o violinista mais rápido do mundo, relatou que estuda (sim, ele ainda estuda) de 4 a 6 horas por dia. Um cantor pratica exercícios diários para a voz, cerca de duas horas só de preparação. Um escritor passa 30% do tempo dedicado na criação de um livro só pesquisando. James Franco, ator, voltou a universidade depois de anos de carreira pra aprimorar seus dons. Uma bailarina ensaia 8 horas por dia.

Constantin Stanislavski criou o que considero o melhor resumo da preparação e da profissão de ator nesta citação: "O ator deve trabalhar a vida inteira, cultivar seu espírito, treinar sistematicamente os seus dons, desenvolver seu caráter; jamais deverá desesperar e nunca renunciar a este objetivo primordial: amar sua arte com todas as forças e amá-la sem egoísmo."

A maior parte dos artistas hoje não consegue só sobreviver da sua arte, especialmente porque a arte não é valorizada, ao contrário da malandragem, essa sim, floresce como nunca. Um dos meus melhores amigos é dentista durante a semana e um dos melhores músicos e criadores de trilha sonora que eu conheço nas horas vagas. Meu ex-namorado é um grande ator que faz sites. Meu pai é músico, multi instrumentista, tem dois Cds gravados, e é dono de uma loja e uma fábrica de móveis. Minha professora da oitava série é uma artista plástica com dois prêmios, mas ainda ensina. Conheço um grande roteirista que desenha puxadores, mas acha tempo pra se aprofundar na profissão. Tarcisio Meira tem fazendas e uma rede de salões de beleza. Ana Paula Arósio se tornou criadora de gado. Marília Pera produz shows sertanejos.

É meus amigos, não é fácil ser artista... A gente faz malabarismo pra conseguir estudar, manter a disciplina e ter uma segunda profissão. 

Se os políticos gostam de afirmar que nem todo político é corrupto, por favor, parem de afirmar que todo artista é vagabundo. Todos nós sabemos que existem exceções à regra nos dois lados. Essa guerra pelo cumprimento da lei do silêncio está só começando, a única coisa que eu peço é que ambas as partes tenham respeito e bom senso na hora de se expressar. 

terça-feira, 10 de maio de 2011

38 é só um número

Quem nunca fez dieta que atire a primeira pedra. Aposto que todas nós sentimos uma pontada de inveja quando olhamos pra barriga da Debora Secco na novela das oito. Ou nos sentimos culpadas depois que comemos aquela panela de brigadeiro. Não tem remédio melhor pra crise de TPM do que uma barrinha de chocolate, mas que pesa na consciência, pesa. 

Me lembro de uma passagem do "Comer, rezar, amar" (filme) em que a personagem da Julia Roberts está em uma pizzaria em Nápoles com uma amiga que se recusa a comer uma pizza inteira, por mais que esteja deliciosa, porque desde que chegou na Itália não entra mais no jeans e a solução da personagem da Julia Roberts foi simples, rápida, fácil e prazerosa: comer a pizza e comprar calças maiores.

Por que somos tão obcecadas pela forma física, ou melhor, pela magreza? No mesmo filme citado acima a (sábia) personagem pergunta a amiga (pseudo) gorducha: "Por acaso algum homem te rejeitou na cama depois que te viu nua? Não, e sabe por que? Porque ele não viu a gordura que você viu porque estava contente demais por ter conseguido tirar a roupa de uma mulher." São as mulheres que fazem as outras mulheres se sentirem mal com relação ao próprio peso e não os homens. E a mídia e o Photoshop não ajudam em nada...

Quem já foi a um desfile de moda sabe que modelo não é bonita de verdade. Quem começou a ditadura da magreza foi a (hoje mais rechonchuda) Twiggy (foto abaixo), na década de 60. Antes dela, bonito era ter curvas, lembra da Marylin Monroe? Ela usava manequim 42/44. 


Mas antes de culpar a moça completamente, lembrem-se que ela pode ter feito sucesso com sua magreza, mas não é uma defensora das modelos extremamente magras, pelo contrário, faz parte do grupo que defende um IMC saudável para subir na passarela.

Ter uma alimentação e hábitos saudáveis é importante pra viver mais e melhor, isso todo mundo está cansado de saber, mas também sabemos como é difícil resistir às tentações, especialmente às comidas rápidas e fáceis, ao sanduíche hiper-calórico, cheio de sabor e com poucos nutrientes que vai nos fazer sentir fome novamente daqui uma hora. Nossa vida, cada dia mais corrida, também não contribui em nada para uma rotina regular de exercícios. Fora que nossa mente é nossa maior inimiga, é quem mais nos sabota.

Há cerca de dois meses, me sentindo pior que a amiga pseudo-gordinha da Julia Roberts, entrei no consultório do meu médico implorando por uma fórmula mágica pra detonar aqueles quilos a mais que tanto me incomodavam quando eu me olhava no espelho. Ele me pesou, me mediu e pediu pra que eu descrevesse a minha rotina, extremamente sedentária, diga-se de passagem, e, com aquela cara de quem sabe tudo, disse que tinha a solução. Eu sorri esperando uma bela receita de sibutramina e ele me passou uma folha de papel com a fórmula mágica escrita:

dieta balanceada + exercícios = mulher magra e feliz

Eu protestei, claro, dizendo que não tinha tempo pra ir pra academia, que minha alimentação era uma droga porque a única coisa pra comer perto do meu trabalho era lanche gorduroso e que eu precisava de outra solução. Ele não me deu outra solução rápida. Era pegar ou largar. Eu peguei, só como experiência e porque estava beirando o desespero.

Passei a trazer marmita pro trabalho, mantenho um diário alimentar, faço uma caminhada de uma hora todos os dias e musculação três vezes por semana, logo depois que saio do trabalho. No primeiro mês foi extremamente difícil porque eu sempre odiei esportes ou qualquer coisa que me fizesse suar, sempre fui o tipo de garota que vai pra aula de yoga, não a garota que puxa ferro. Mas era por uma boa causa. No primeiro mês, seguindo o cardápio e a rotina de exercícios emagreci 5 kg. No segundo foram mais 3 kg. Agora parei de contar porque voltei a entrar nas minhas calças, mas continuo mantendo a rotina saudável, só que ficou bem mais fácil. Carrego na minha agenda uma foto minha de biquini quando eu ainda estava rechonchuda, só pra me lembrar dos riscos que a preguiça e os excessos podem causar.

Hoje quando você pega uma revista e vê a Giselle Bunchen pedindo coxinha no intervalo do São Paulo Fashion Week a primeira coisa que passa na sua cabeça é: "ÓDIOOOOO, Deus é injusto! Por que ela come coxinha e não engorda????" E a resposta é simples: porque ela não come coxinha todo dia! Eu também não deixei de comer o que eu gosto, só diminuí o ritmo. Exceto pelo chocolate, esse não abandono de jeito nenhum, como um pedacinho de chocolate amargo toda manhã. Mas um pedacinho não é nada comparado com as duas barras diárias de antes.

Então se você também está infeliz com seu peso eu peço que se pergunte primeiro por que realmente quer emagrecer? É por você mesma ou porque os outros acham que você está gorda? Porque se for pelos outros, pode ir parando por aí, a beleza é muito mais do que essa casca que a gente carrega. A verdadeira beleza está dentro de você e isso não é pra ser papo de auto-ajuda, é a verdade mais antiga que existe. Alguém pode até se aproximar de você porque você é linda por fora, mas só vai te amar de verdade se você for bonita por dentro e se souber amar a si mesma.

Fazer escolhas saudáveis é ótimo, mas ficar obcecada com o próprio corpo é o pior erro que uma pessoa que quer emagrecer pode cometer. É bom relaxar e não se cobrar tanto.

Mas um alerta meninas, se você tem absoluta certeza que vai queimar essas gordurinhas procure ajuda especializada. Eu já entrei em muitos regimes malucos e furados, que deram um excelente resultado a curto prazo, mas acabei ganhando todo o peso depois porque me acomodei. Ou pior, isso pode trazer conseqüências pra sua saúde. Dieta é coisa séria e precisa ser acompanhada por um profissional e não pode ser restritiva demais. Nosso corpo precisa de calorias e nutrientes pra funcionar. Você não vai emagrecer tudo de uma vez, é um processo gradual, demorado e que exige manutenção eterna. Você vai precisar de uma reeducação alimentar quando atingir o peso ideal pra não correr o risco de voltar a engordar. O que funciona muito bem pra sua amiga pode não funcionar bem pra você, afinal, vocês são pessoas diferentes com rotinas e necessidades diferentes.

Outra coisa importante é estabelecer metas reais. Nenhum corpo é igual ao outro. Se você tem curvas naturalmente não adianta querer se transformar na Cameron Dias, não vai funcionar e você só vai se frustrar. O primeiro passo é aceitar nosso biotipo e focar em melhorar essas qualidades que já possuímos. Mas principalmente precisamos lembrar que a saúde vem antes da beleza. Uma mulher esquelética não é saudável e muito menos bonita. Quer exemplos de mulheres lindas e que não são magrelas? Jennifer Lopez e Scarlet Johansson. Elas estão na medida, são curvilíneas, se cuidam, tem um "corpão", mas nada da magreza mórbida que vemos na maioria das atrizes hoje.

Fica a dica pra quem quer se aventurar em perder alguns quilinhos, leia, se informe e não saia por aí fazendo loucuras. Vai demorar mais pra chegar no seu objetivo, mas tenha certeza que será gratificante e permanente.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

De volta para o futuro: amor e loucura

Hoje eu estava conversando com um amigo que fazia tempo que não via, ele é um artista talentosíssimo (artista porque o moço perambula por todos os cantos da arte, teatro, cinema, música... Haja fôlego pra acompanhar!) com quem gosto de falar sobre o universo ser grande e estar se expandindo, enfim, ele acabou me mostrando uma música que está compondo e de alguma forma a música me trouxe de volta 11 anos (nota da autora: tinha que ser 11?) no tempo. 

Naquela época eu era jovem e conheci meu primeiro amor. Ele realmente era uma coisa! Tinha uma lábia o rapaz, bom de papo pra caramba. Passamos 6 meses só conversando e trocando e-mails daqueles de Power Point, daqueles que sua mãe provavelmente manda pra você todos os dias. (lembrem-se que nessa época a internet era jurássica, Power Point era legal). Enfim, em um ato de lábia pra tentar me conquistar (era pra me conquistar, né?)  o rapazinho me mandou um texto ingênuo e bonitinho, sem muito significado pra uma menina de 15 anos mas que deve ter funcionado porque ouvindo a música do meu amigo, que não é nenhum pouco ingênua apesar de linda, a primeira coisa que lembrei foi do texto. E, pasmem, ele ainda existia na Internet!

Então pra todo mundo que quer reviver o tempo em que se encontrava pessoas no mIRC e top de linha era falar no ICQ, segue, direto do meu zipmail, o texto sobre meu setembro de 1999. Dementia!


"Certa vez os sentimentos e as qualidades dos homens estavam à tôa há um bom tempo. O ABORRECIMENTO já havia reclamado pela terceira vez que não agüentava mais ficar parado, então eis que a LOUCURA propôs-lhes uma brincadeira: - "Vamos brincar de esconde-esconde?"

A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada e a CURIOSIDADE, sem poder conter-se, perguntou-lhe: - "Como é que se brinca disso?"

- É um jogo, explicou a LOUCURA, eu que fecho os olhos e começo a contar de um a um milhão, enquanto vocês se escondem, e quando eu tiver terminado de contar, o primeiro que eu encontrar vai ocupar meu lugar para continuar o jogo.

A idéia foi tão bem aceita pelo ENTUSIASMO que ele dançou com a EUFORIA. A ALEGRIA deu tantos saltos que acabou convencendo a DÚVIDA e a APATIA a participarem.

Mas nem todos quiseram brincar. A VERDADE preferiu não se esconder: - Não adianta eu me esconder, pois no final todos me encontram, justificou-se. A SOBERBA opinou que era um jogo muito bobo (lá no fundo o que a incomodava era somente o fato do jogo não ter sido idéia dela). A COVARDIA, como sempre, preferiu não se arriscar.

- Um, dois, três, quatro, cinco.., começou a LOUCURA. A primeira a se esconder foi a PRESSA que, como sempre, tropeçou na primeira pedra que encontrou no caminho e caiu. A FÉ subiu ao céu e a INVEJA se escondeu atrás da sombra do TRIUNFO que, com o seu esforço, havia conseguido subir na copa da mais alta árvore.

A GENEROSIDADE quase que não conseguiu se esconder, pois cada lugar que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos: Indicou o lago cristalino para a BELEZA, a copa de uma boa árvore para a TIMIDEZ, o vento para a LIBERDADE, e assim por diante. Acabou se escondendo num pequeno raio de sol.

O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou uma caverna muito boa, mas fez questão de ficar sozinho. A MENTIRA se escondeu no fundo do oceano (alguns dizem que ela se escondeu atrás do arco-íris). O DESEJO se escondeu na boca de um vulcão. O ESQUECIMENTO, bem, não me recordo onde ele se escondeu.

Quando a LOUCURA estava chegando ao fim, no número 999.999, o AMOR ainda não tinha encontrado um local para se esconder, pois todos já tinham ocupado os melhores lugares, até que encontrou um roseiral, e carinhosamente se escondeu entre as suas rosas.

- Um milhão, gritou a LOUCURA, lá vou eu! A primeira a ser encontrada foi a PRESSA, que tinha caído mais umas 20 vezes. O segundo a ser encontrado foi o EGOÍSMO, pois sua caverna era, de fato, um gigantesco ninho de vespas que picou-o repetida vezes e ele teve que se revelar correndo.

Depois, escutou-se a FÉ, que não conseguia ficar quieta perto de Deus. Sentiu-se o vibrar do DESEJO na boca do vulcão, viu-se o TRIUNFO (pois é difícil escondê-lo por muito tempo) e, logo atrás dele, a INVEJA.

Cansada e com sede, a LOUCURA parou para tomar um gole de água e encontrou a BELEZA olhando-se no lago. A DÚVIDA, coitada, foi encontrada em cima de uma cerca sem se decidir de que lado devia se esconder.

E assim foram se encontrando os demais: O TALENTO entre as ervas frescas, a ANGÚSTIA numa cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris, mas alguns dizem que foi mesmo no fundo do oceano. O ESQUECIMENTO não foi encontrado.

O único que ainda não havia sido encontrado era o AMOR, que estava bem quietinho no seu esconderijo, esperando a hora certa para mostrar a cara. Completamente contrariada, a LOUCURA teve um acesso de si mesma e começou a vasculhar tudo com uma vara dura e seca, cutucando e batendo com força e violência em tudo à sua frente.

Ao agredir o roseiral, feriu gravemente os olhos do AMOR. Quando escutou aquele horrível grito de dor, logo percebeu a gravidade do seu ato. Pediu desculpas, perdão, chorou, rezou, implorou... mas o mal já estava feito. Sua única alternativa foi comprometer-se a ficar eternamente ao seu lado ajudá-lo no que fosse preciso.


Desde esse dia o AMOR é cego e a LOUCURA o acompanha!"



Eu em 1999.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sombras do fim de semana

Essa semana fomos bombardeados com a notícia da morte de 12 crianças no Rio de Janeiro pelas mãos de um atirador. A primeira reação é choque, revolta, indignação, dor. O caso ganha a mídia, chama nossa atenção, sofremos com as famílias, sofremos como nação. Só por um dia pensamos mais nos outros do que em nós mesmos. Só por um dia mesmo, porque chega a sexta-feira e a perspectiva do fim de semana começa a chamar mais nossa atenção. Show do Slash, balada, amigos, bebedeira, festival de teatro, diversão... O Rio de Janeiro e as crianças vão virando pequenhas sombras da nossa hipocrisia. Assim como o caso Nardoni, alguém lembra? 

Esse post é inspirado nas palavras de uma amiga no Facebook. Sem querer desdenhar a tragédia ela colocou o seguinte argumento: a mídia fez do caso um circo, morreram 12 pelas mãos de um louco, horrível, chocante, incompreensível até, e quantos morrem por negligência na saúde, segurança pública, trânsito, e ninguém noticia ou dá bola? 

Será que estamos tão acostumados com a violência e o descaso que escolhemos não nos importar? A verdade é que o que aconteceu no Rio de Janeiro essa semana foi uma tragédia que merece espaço na mídia, que merece nossa indignação. Mas será que já não é hora de olhar adiante, de perceber que temos que nossos problemas vão além de uma tragédia isolada que naturalmente é conseqüência de uma tragédia maior: a falta de estrutura que temos no nosso país. Quanta gente vive na miséria e ninguém faz nada? Quanta gente morre por falta de dinheiro pra arrumar hospitais enquanto o governo financia direta ou indiretamente a reforma de estádios para a copa do mundo? Sem falar em como enchemos os bolsos dos políticos. A gasolina vai chegar a R$ 3,00 e ninguém faz nada. Sabe o que está embutido nesse valor? Imposto que não vai ser repassado para o povo na forma de melhorias, e ai de quem disser que vai, me mostra que eu quero ver o que está sendo feito de bom com esse dinheiro, mas me mostra alguma coisa palpável porque de teatro já me basta a profissão.

Pelo amor de Deus, gente, o Japão refez uma rodovia em uma semana! O povo de Morretes está sofrendo com o resultado das enchentes há um mês! A passagem do ônibus aumentou e a frota continua a mesma, ou até pior. É o nosso dinheiro, é a nossa cidade, é o nosso país.

Se a gente não se unir pra fazer alguma coisa, vão continuar nos oferecendo pão e circo e as melhorias de verdade nunca vão chegar. As penitenciárias vão continuar lotadas de ladrões de galinha que vão sair e virar delinqüentes ainda piores dos que já temos nas ruas porque não têm oportunidades. Os alunos das escolas públicas vão continuar recebendo uma educação medíocre porque ninguém se importa. Ou só se importa até a sexta-feira chegar.

Infelizmente eu não tenho uma solução rápida. A única coisa que posso pedir é que a gente exija mais respeito, que a gente não se conforme com o pão e o circo e que a gente una nossas cabeças e nossas forças pra encontrar uma solução mesmo que a longo prazo, mesmo que a principio aconteça só no nosso bairro, na nossa comunidade.

Bom fim de semana pra todo mundo.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sobre a princesa e o lobo mau

Hoje é quinta-feira. Eu nasci em uma quinta-feira. Odeio quinta-feira. Todas as grandes revelações da minha vida aconteceram em uma quinta-feira. As tragédias também. São 8:50 da manhã, deveria estar na aula e nem tomei café, mas tudo acontece por uma razão. Tem que acontecer. E a razão de eu estar escrevendo este post em vez de estar na aula de modelagem é porque fui conferir meus recados no Facebook (tá, mentira, fui ver se minha plantação de rosas já estava pronta pra ser colhida) antes de sair e uma amiga me sugeriu um livro: "Troco o príncipe encantado pelo lobo mau" da Raquel Sanchèz Silva. Não li o livro, acabei de ficar sabendo sobre ele, pretendo ler, mas li a descrição. A autora  aparentemente usa contos de fada para passar a seguinte mensagem para as mulheres: vocês só serão felizes no amor quando deixarem de lado o arquétipo de princesa e aprenderem a correr atrás dos seus desejos. 

Pra falar a verdade esse argumento não é nada novo e sendo bem sincera, mulheres modernas já tentam fazer isso há muito tempo. Foi assim que demos início a revolução sexual depois que saímos pra trabalhar e exigimos igualdade entre os sexos. Queremos ter o direito de correr atrás do que desejamos. Queremos ter o direito de dar o primeiro passo se estamos a fim de alguém. Mas quantas vezes você deixou a princesa de lado pra se tornar amazona e realmente funcionou? Eu sei que existem exceções! Eu sei que você vai me contar que uma vez tomou a iniciativa e foi muito feliz, que o cara adorou, enfim, escreveu um conto de fadas moderno no qual o príncipe encantado foi resgatado pela princesa (É, eu também assisti Shrek). Mas por que, então, na maioria das vezes se você vai atrás do cara dá tudo errado?

Nesta quinta-feira, de estômago vazio, eu obtive uma resposta: O PROBLEMA SÃO ELES. Lembra quando você era criança e te diziam que as meninas amadurecem mais rápido do que os meninos? Pois é, sinto muito lhe dizer que eles estavam certos. Nós amadurecemos mais rápido do que os homens e acho que evoluímos também, porque saia na rua agora e pergunte pra qualquer mulher se ela gostaria de tomar a dianteira do relacionamento, de dar o primeiro passo, de ter igualdade, ela vai te dizer que sim, que ela está pronta pra abandonar o sapatinho de cristal. Porém, faça a mesma pergunta pra um homem. Mais uma vez, como em toda regra existem exceções, mas a grande maioria dos homens, até mesmo os que disserem que aceitam que a mulher não seja a princesa a espera do príncipe encantado, no fundo, não aceitam. Homens não estão preparados para calçar o sapato de cristal e deixar a mulher tomar a iniciativa. Quando uma mulher faz isso, é vista com outros olhos e não é no bom sentido, mesmo que a gente tenha a melhor das intenções indo pra cima do cara. Mesmo que a gente tenha interpretado os malditos sinais que ele mandava e tenha resolvido agir pensando que ele estava tendo dificuldades. Ele até poderia estar tendo dificuldades, mas quando você cortou o mal pela raiz e resolveu o problema pra ele, o interesse diminuiu.

Lembro de uma passagem do livro "Os homens são de Marte, as mulheres são de Vênus" que fala que o homem sente uma forte necessidade de ser necessário e concertar o que quer que esteja errado. Já as mulheres se contentam simplesmente em ter o apoio, e fazer elas mesmas os reparos só se realmente não tiverem ajuda. Ou seja, no fundo todos nós queremos "concertar", dar o primeiro passo, mas nós mulheres, por sermos mais compreensivas, acabamos aceitando o papel de coadjuvantes dessa história e agora eles estão tendo dificuldades em aceitar que a nós também gostaríamos de ser protagonistas. Mais uma vez, o problema não somos nós, são eles, que vão demorar um pouquinho mais pra perceber que a mulher ir atrás dos desejos não é tão ruim. Agora, você tentar mostrar pra eles essa verdade é bem arriscado e pode ser muito doloroso. Palavra de quem passou recentemente por isso. E não foi só uma vez.

Mais uma vez, existem exceções, mas não se anime, na verdade não são muitas.

Então, o que dizer pra vocês? A gente tem uma escolha, a gente pode tentar educar os homens nesse sentido, mas isso teria de ser feito por TODAS NÓS. Aliás, um amigo me disse que na Itália as mulheres estão tentando fazer isso, se é verdade eu não sei, mas ele encerrou dizendo que por isso os italianos estão procurando mulheres de outras nacionalidades. Vejam o tamanho do risco. A gente sabe que nesse mundo enorme todas se unirem por um objetivo desses é uma coisa meio utópica. Umas vão fazer, outras vão aproveitar a chance pra ser diferentes. E no fim as pessoas vão continuar iguais. Na verdade eu acho que em vez de tentar se unir pra isso a gente podia era começar educando nossos filhos quando formos mães de meninos. Quem sabe banir os contos de fadas. Ou melhor, escrever novos em que príncipes e princesas estão realmente no mesmo patamar.

Resumindo, vai levar tempo até que a gente consiga fazê-los nos aceitar como somos ou como gostaríamos de ser, mas isso não significa que você não possa  tomar a iniciativa. Só significa que você tem que ser mais cuidadosa e saber que esse é um jogo bem arriscado.

Assim que eu ler o livro da Raquel Sanchez Silva eu posto algo falando o que achei.


segunda-feira, 14 de março de 2011

Surtos psicóticos de inicio de ano

Sempre nessa mesma época do ano eu entro em parafuso, com crises existenciais intermináveis, dúvidas cruéis sobre o meu futuro, sobre quem sou eu, sobre como sobreviver neste mundo cão. Ano passado larguei tudo e fui tentar fazer medicina pela segunda vez. Aí julho chegou e eu desisti da medicina. No ano retrasado foi psicologia e no ano anterior algo que nem me recordo. Nesse vai e vem já passei por mais profissões do que uma criança com imaginação fértil. De bailarina a analista criminal, passando por comissária de bordo, garçonete, estilista e astronauta. Tá, exagerei no astronauta. Mas a verdade é que depois que julho chega eu sempre volto pro bom e velho mundo das artes. A causa pra tanta mudança não nos interessa no momento e só pode ser definida pela minha terapeuta (aliás, será que a Dra. lê meu blog? A foto acima é um presentinho da paciente psicótica hehehe). Parágrafos de DDA a parte, voltando ao que interessa. Analisando o surto desse ano e chegando a essa conclusão de que sempre volto pras artes cheguei a uma conclusão um pouco mais ampla, que não tem só a ver com o campo profissional, mas com todos os aspectos da vida: sempre voltamos pro que amamos.

É impossível não ficar confuso, afinal, são tantas possibilidades, tantas aventuras e a vida é tão curta, queremos abraçar o mundo de uma só vez. Mas abraçar o mundo de uma só vez é impossível, portanto, é mais fácil aproveitar cada pequeno pedaço da vida, cada toque, cada riso, cada faceta, como única. Ir com a maré. Viajar no momento. No regrets. Sem arrependimentos, sem bagagem, sem grandes preocupações. Porque apesar de pessoas serem complicadas, a vida é bem simples, a gente é que complica. A gente é que fica de birra, briga a toa, perde amigos por orgulho. Perde oportunidades por medo. A gente é que rotula tudo, fica tentando explicar o inexplicável. 

Regrinhas simples: 
1) Tem sempre alguém pior do que você. Basta não focar no seu umbigo o tempo todo pra perceber.
2) Querer mudar é bom.
3) TODO MUNDO ERRA.
4) Pra rir, é só começar. Pergunta pra Amanda.
5) Ser um pouco otimista nunca matou ninguém até onde eu sei. Mas o otimismo já curou câncer por aí. Não se entregue e viva, mesmo que erre, que quebre a cara.
6) PERDOE e aceite não ser perdoado. Reconhecer o próprio erro é mais importante.

É isso, o post de hoje é só pra lembrar as pessoas que lêem isso aqui de que não é o fim do mundo, embora pareça.

Skyway by The Replacements
Skyway por The Replacements


You take the skyway, high above the busy little one-way
Você toma a rota aérea, bem acima da pouca ocupada via de mão única.
In my stupid hat and gloves, at night I lie awake
No meu chapéu estúpido e luvas, durante a noite eu fico acordado
Wonderin' if I'll sleep
Me perguntando se eu vou dormir
Wonderin' if we'll meet out in the street
Perguntando se vamos nos encontrar na rua


But you take the skyway
Mas você toma a rota aérea
It don't move at all like a subway
Que não se move como um metrô
It's got bums when it's cold like any other place
Tem vagabundos quando está frio como em qualquer outro lugar
It's warm up inside
É quente no interior
Sittin' down and waitin' for a ride
Sentando e esperando para um passeio
Beneath the skyway
Sob a rota aérea