terça-feira, 1 de novembro de 2011

Praia ou cemitério?

Uma das memórias mais vivas que eu tenho da minha infância tem relação com o feriado de finados. Todo ano nessa época eu lembro que minha mãe me colocava dentro do carro e nós íamos, junto com minha avó, pra Laranjeiras do Sul limpar e cuidar da capelinha da minha bisavó Vicentina no cemitério. Eu era só uma criança, só ia pra brincar no meio do cemitério, que era absolutamente fascinante pra mim e só Deus sabe porque. Mas essas pequenas viagens foram grandes escolas. Eu via como as mulheres tratavam o lugar com carinho, como escolhiam as rosas mais bonitas pra montar os vasos que enfeitavam o local. Apesar do trabalho duro, todo mundo fazia isso com orgulho, com um sorriso no rosto. E no meio de uma vassourada e outra elas falavam da Vó Vicenta, como carinhosamente chamavam minha bisavó. Ela morreu muito tempo antes de eu nascer, mas é como se ela tivesse feito parte de toda a minha infância. Quando penso nela, penso em uma senhora de longos cabelos trançados, vestido preto e branco, que fazia bolacha pras netas e sempre tinha muito carinho pra dar.

Os anos passaram e as capelinhas pra limpar foram aumentando em número. Eu continuei acompanhando o processo e através do dia de finados em família acabei conhecendo tios-avôs, primos distantes, escutei histórias dos membros da minha família, aprendi a conhecê-los mesmo que fisicamente eu talvez não os tenha visto uma vez sequer. Tive lições de coragem, amor e persistência. E eu também passei a admirá-los e honrá-los.

Os anos passaram, eu cresci, me mudei, estou longe demais pra acompanhar esse processo que se transformou em uma espécie de tradição e por algum tempo ignorei o dia de finados, pensando nele como se fosse apenas mais um feriado em que eu poderia ficar em casa ou ir pra praia. A cada ano eu vejo o Dia das Bruxas ganhar espaço entre festas e bebedeiras e esta data passa a ficar conhecida como o "dia da ressaca do feriado". Até pra mim. Então escrevo este texto...

Este dia foi criado pra que a gente lembrasse e honrasse as pessoas que fizeram parte da nossa vida, que foram importantes pro nosso crescimento, seja indo ao cemitério, tomando uma taça de vinho em sua homenagem, acendendo uma vela, fazendo uma oração... Cada um tem sua própria maneira. Eu não estou dizendo que você não possa fazer deste o dia da ressaca, a escolha é de cada um, mas não me custava nada te lembrar o verdadeiro motivo de você não estar indo pro trabalho.

A vida é tão curta e é tão difícil vivê-la intensamente porque a gente sempre tem a impressão que vai ter mais tempo. A novidade é que não temos. E aí paramos pra pensar como aproveitamos mal nosso tempo e o tempo com as pessoas a nossa volta.

Este é um texto de gratidão a todos aqueles que me ensinaram alguma coisa e àqueles que foram tirados de mim muito cedo, porque não importa quanto tempo passe, é sempre cedo demais pra dizer adeus.


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