terça-feira, 8 de novembro de 2011

Reencontrando o que eu chamava de fé...

Antes de começar, leia e ouça isso:





Se Um Dia Eu Deixar Este Mundo Vivo

Se um dia eu deixar este mundo vivo
Eu lhe agradecerei pelas coisas que fez em minha vida
Se um dia eu deixar este mundo vivo
Eu voltarei e sentarei ao seu lado esta noite
Não importa onde eu estiver, você será
sempre mais que uma memória
Se um dia eu deixar este mundo vivo

Se um dia eu deixar este mundo vivo
Vou superar toda a tristeza
que deixei para trás
Se um dia eu deixar este mundo vivo
Sua loucura logo desaparecerá
Então resumindo, não derrame uma lágrima
Eu estarei aqui quando as coisas ficarem estranhas
Se um dia eu deixar este mundo vivo

Então, quando estiver em dúvida, me chame
Antes que você vá à loucura
Se um dia eu deixar este mundo
Hey, eu posso nunca deixar esse mundo
Mas se um dia eu deixar este mundo vivo

Ela diz eu estou OK, eu estou bem
Embora você tenha ido da minha vida,
Você disse que tudo deveria
Agora tudo deve ficar bem

Ela diz eu estou OK, eu estou bem
Embora você tenha ido da minha vida,
Você disse que tudo deveria
Agora tudo deve ficar bem
Sim, vai ficar bem


Apesar de ter sido criada como católica, aos doze anos minha mãe me deu o direito de escolher se eu queria continuar frequentando a igreja aos domingos. Nessa época eu já estudava por conta própria fatos históricos como um hobbie e se tem uma coisa que a história me ensinou é que a Igreja Católica nem sempre (ou quase nunca) foi um símbolo puro da fé e sim algo completamente oposto a sua filosofia: poder e riqueza. Isso, eu confesso, me desapontou muito e fez com que eu me afastasse completamente desta instituição, antes mesmo de me crismar. Por outro lado, sempre busquei a iluminação e Deus, o que quer que isso signifique de verdade. Sempre me recusei a acreditar que ciência e fé sejam coisas completamente distintas. Como quando Thor fala para Jane que no seu mundo os dois são a mesma coisa e juntas são o que nós chamamos "mágica". Mas claro que isso é só um pensamento de histórias em quadrinhos e do cinema. E talvez meu.

Quando eu estava em Roma comecei a entrar em todas as igrejas que encontrava pela frente simplesmente pra ver a obra de arte e arquitetura que aqueles templos representavam, a história que aquelas construções contavam, sempre com meu guia em mãos ou um amigo pra me contar os fatos importantes do lugar. Eu não sei exatamente quando aconteceu, mas em algum momento eu simplesmente esqueci os fatos históricos e deixei o lugar me acolher. Era como se eu não estivesse mais realmente ali e conseguisse pensar.  Eu não me importei com as pessoas ao meu redor, com os barulhos da cidade. Eu podia ver as esculturas, as pinturas e todas remetiam pra minha reflexão interior. Comecei a pensar em quanta sorte eu tive e senti uma necessidade absurda de agradecer por estar ali, por ter alcançado tanta coisa, por ter chego tão longe. Eu até agradeci a todas as coisas ruins que tinham me acontecido até o momento, sem as quais eu não teria aprendido tanto e não seria a pessoa que sou hoje.

Então saí desta igreja com a alma mais leve e o coração menos apertado.

Depois disso passei a rezar. Ou melhor, conversar com Deus. Não que ele me responda da maneira convencional, mas toda vez que eu me encontrava em um lugar inspirador eu tinha uma palavra a dizer. E nos meus raros momentos de solidão também. E quando me dei conta eu estava em paz pela primeira vez em muito tempo.

Foi em uma igreja de Verona que as coisas começaram a se confundir na minha cabeça. Por que eu entrava tanto em igrejas e me sentia tão bem fazendo isso mas ainda assim não me sentia bem admitindo que eu era católica? E a resposta foi: porque você não é católica. Então o que eu sou? Humana. Uma humana que acredita em algo e não precisa de uma instituição pra provar sua fé. E isso é possível? (...) Já era tarde, a igreja estava quase fechando e o padre não parava de encarar a moça (eu) sentada há um tempão olhando pra uma escultura antiquíssima de Santo Antônio. Ele me perguntou se eu estava bem ou precisava conversar. Então este senhor de batina sentou ao meu lado e eu tive minha primeira conversa honesta com um padre. Não foi exatamente uma confissão, mas eu contei a ele minhas dúvidas, meus medos, partes da minha história que até minha família desconhece e como eu não era capaz de me conectar com a Igreja Católica, como eu acreditava na reencarnação, como eu ansiava pra encontrar aquela paz ao pensar no outro lado, que eu não estava sozinha. Este senhor teve uma paciência incrível pra ouvir tudo no meu italiano ruim e ele só me respondeu uma coisa: você está mais perto de Deus do que muita gente que frequenta a igreja todos os dias. Não existem verdades absolutas, mas só porque você não vê o vento não significa que não possa senti-lo.

Eu ainda não me sinto católica, mas eu percebi que eu não preciso de um rótulo pra me sentir conectada com o universo. E eu encontrei conforto.

Resolvi partilhar essa história aqui porque eu ainda me sinto um pouco perdida, mas pela primeira vez estou tentando encontrar de verdade um caminho, não só espiritual, mas pessoal, fazer algo pelos outros que também me torne uma pessoa melhor. Eu pensava que eu só sabia e só deveria atuar, mas existem outros caminhos que podem tocar meu coração. Eu perdi o medo de morrer sem deixar uma marca, as marcas que parecem mais sutis são as mais profundas. 

Um comentário:

  1. Que lindo... também já aprendi essa lição... "as marcas que parecem mais sutis são as mais profundas". Por vaidade, tinha medo de morrer e ninguém lembrar mais de mim, por isso, achava, precisava ser alguém importante, ter feito grandes feitos... mas não... hoje percebo que sendo apenas eu mesmo, já deixei marcas suficientes pelo mundo, através de quem me conhece... acho que é porque estou sempre a trocar, dar um pouco de mim, da minha experiência, em troca da experiência, da voz do outro.
    Acredito que fizemos muito disso em Roma, entre nós e com outras pessoas... Sim, Pri, já deixamos nossas marcas pelo mundo.
    :D

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