terça-feira, 25 de janeiro de 2011

On s’habitue aux fins du monde...

Se você ligar a TV, pegar o jornal, sair na rua, ligar pra um amigo ou simplesmente abrir a janela vai ouvir falar ou dar de cara com notícias sobre os desastres naturais que estão acontecendo no Rio, em Santa Catarina, na Austrália e sabe Deus mais onde. Está em toda parte e sempre que algo assim acontece vemos certa mobilização da sociedade pra ajudar. 

Eu não faço idéia do que essas pessoas estão passando de verdade, tive a sorte de nunca passar necessidades ou perder tudo em uma enchente. Tive a sorte de ter uma família completa e saudável com pai, mãe e avós, todos casados e felizes depois de muitos anos, uma grande família italiana feliz. Tive a sorte de fazer bons amigos e ter um excelente trabalho. E agradeço a isso todos os dias, mas confesso que no meu mundinho perfeito não pensei nenhuma vez em entrar num avião e ir até um desses locais  ajudar, embora tenha separado alguns mantimentos pra doação. Só isso, porque na minha cabeça e mundinho perfeitos minha responsabilidade acabava ali. Pronto.

Mas hoje na fila da Unimed algo aconteceu que me fez pensar mais sobre essa situação toda.

Duas mulheres bem vestidas, na casa dos 40 anos, conversavam sobre o noticiário e as enchentes. A princípio a conversa me pareceu mesquinha e superficial, já que elas defendiam que era tudo culpa do governo. Eu pensei: "como o governo iria prever um DESASTRE NATURAL? Por acaso agora existe uma linha direta com Deus que avisa que essas coisas vão acontecer e eu não fiquei sabendo?".  Mais tarde repeti a história pra um grupo de pessoas, indignada de como as pessoas conseguiam achar que tudo era culpa dos políticos, mas que dessa vez, mesmo que eu não gostasse, a culpa não era de ninguém. Uma das pessoas falou: "você tem razão, a culpa não é do governo, é de todos nós.". Confusa. Expressão branca. Nada. Meu lado loira falou mais alto e eu fiz de conta que não ouvi o que ele disse porque não estava com muita vontade de pensar e admitir que eu não tinha entendido. Só que eu pensei, e muito, nisso depois. Ele está certo, a culpa de tudo isso é de todo mundo, porque nos acostumamos com o fim do mundo.

Todos os dias vemos pessoas pedindo dinheiro no sinal. Isso já é tão comum que acabamos ignorando, ou dando um trocado pra manter a consciência limpa. Nos acostumamos com a idéia de que precisamos dos carros movidos a gasolina e álcool porque é o que o mercado oferece hoje em dia. Então se poluímos usamos a desculpa de que não é nossa culpa que as grandes corporações controlem o mercado. Nos acostumamos até com a idéia dos esgotos sendo jogados no mar (fala sérios, quantas vezes você pensa nisso de verdade?). 

Não é nossa culpa que tenha chovido tanto. Mas é mais do que hora de assumirmos a responsabilidade por não fazermos nada. Eu sei que você vai dizer que eu estou sendo radical com esse pensamento de que podemos lutar contra as grandes corporações, que podemos nos alimentar só com os alimentos da nossa própria horta, que podemos dar um jeito de desviar algum dinheiro que os políticos roubam e que deveriam estar investindo em melhores condições de moradia e pra diminuir o impacto ambiental desse convívio homem/natureza. Mas a verdade é que podemos. Devemos. Mas é mais cômodo não fazer nada e usar essa desculpa de que uma andorinha só não faz verão. Estamos caminhando pro fim do mundo e não é porque o calendário maia vai acabar em 2012, ou porque algum desastre natural gigantesco vai acontecer, mas é porque simplesmente paramos de nos importar.

Eu não estou falando só de desastres naturais, de poluição, estou falando das nossas vidas. Paramos de nos importar com o ser humano quando vemos pequenas irregularidades e não fazemos nada a respeito. Paramos de nos importar quando tiramos uma pequena vantagem de alguém. Toda vez que vemos algo e pensamos que isso não é problema nosso mesmo sabendo que podíamos fazer algo, significa que paramos de nos importar. Somos egoístas, egocêntricos, humanos. Erramos, mas será que já não está na hora de aprender que podemos sim fazer mais pelo próximo sem prejudicar a nós mesmos? Escolhemos viver em sociedade, então deveríamos exercitar isso mais vezes.

Pode me chamar de hipócrita, admito que não faço tudo isso que eu escrevi aqui. Admito que tenho um carro e uso ele mais do que devia, admito que não ajudo Deus e todo mundo que precisa de mim, faço bem menos do que deveria. Mas a razão de ter escrito esse texto é pra lembrar a mim mesma e a quem quer que esteja lendo isso que estamos acostumados, mas que nunca é tarde pra começar a fazer mais pelo todo.

Escolha suas batalhas. Não precisa ser radical. Faça só o que estiver ao seu alcance, mas faça de forma altruísta. Em nome dos 6 bilhões de pessoas no mundo, muito obrigada por pensar em todos nós.

2 comentários:

  1. Boa reflexão. E como você disse sabiamente, a reflexão pode ser o primeiro passo para a mudança.
    Obrigada pelo primeiro passo.

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  2. Excelente texto que me fez pensar.

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