Vivemos em um mundo individualista, isso é fato. Pare e pense quando foi a ultima vez que você passou um dia inteiro sem usar as palavras "eu" e "meu". Eu provavelmente nem sabia falar quando isso aconteceu. Somos dramáticos por natureza e frequentemente temos a sensação de que o Universo está contra nós. Sempre contra nós.
Ontem indo pra casa parei em um sinal e vi uma das cenas mais comoventes que alguém poderia ver. Uma menina de uns dez anos ganhou um chocolate do motorista que estava na frente e foi correndo para onde estava o irmãozinho. A mãe dela estava catando papelão. Ela pegou um pedacinho do chocolate e deixou a maior parte (a barra quase toda) pro irmão que devia ter uns três ou quatro anos. Não sei se é o excesso de remédios, a dor ou o fato de estar emocionalmente abalada, mas diante daquela cena eu percebi como os meus problemas, e na maioria das vezes o das pessoas ao meu redor, são pequenos se comparados à vida que aguarda uma criança dessas. Enquanto uma criança não tem o que comer ou o que vestir ou pais conscientes de não colocar mais filhos no mundo se for só pra sofrer, eu jogo Farmville. Eu planto comida virtual. Eu choro durante horas por uma cena de ficção executada por atores extremamente bem pagos quando coisas reais como essa acontecem todos os dias e ninguém chora por elas.
Há uma semana das eleições eu tomo consciência de que a solução pra tanta miséria, poluição, individualismo e hipocrisia não está em um Bolsa Família ou na mão de um governante supremo, está nas nossas mãos, nós, cidadãos comuns podemos fazer alguma coisa sim. Podemos começar com o simples fato de sermos gratos por termos saúde, por exemplo, diante de tanta gente morrendo em um hospital, sem condições de se tratar, às vezes presas em um caso sem solução, outras porque simplesmente não tem dinheiro. Ou sermos gratos pelo fato de termos ao lado alguém que nos ame, um teto sobre a cabeça. Enfim, se a gente parar pra pensar a gratidão é o primeiro passo pra perceber o que estamos fazendo errado. E a partir daí podemos transformar nossa utopia em ações.
Quando digo transformar em ações não é mudar o mundo se livrando de tudo o que você tem pra dar a quem não tem, porque isso não ensinaria nada a ninguém. Mas a gente pode começar com pequenas ações, como reciclar, dar a mão a um estranho quando ele precisa, separar um dia por mês pra fazer um trabalho voluntário, é tão simples visitar um orfanato em um domingo preguiçoso. E se você realmente tiver condições, porque não ensinar algo a alguém. Doar livros que estão empacados na sua prateleira. Não é de mais dinheiro que o mundo precisa, mas de ações. De pessoas conscientes que possam passar algo produtivo ao próximo.
Eu sei que agora você vai dizer que tem muita gente que se aproveita da bondade dos outros. Pois bem, eu te desafio nesse momento a mudar esse quadro. Ser bom não significa dar algo material. Aliás, o material ajuda, mas não concerta absolutamente nada. A raiz do problema está na mente de cada um de nós e só nós temos a capacidade de mudar isso.
Vou encerrar o post de hoje com uma frase otimista de Charlie Chapplin: "We all want to help one another. Human beings are like that. We want to live by each other's happiness, not by each other's misery." (Todos queremos ajudar uns aos outros. Seres humanos são assim. Queremos viver pela felicidade dos outros, não pela miséria dos outros.)