domingo, 28 de novembro de 2010

Good bye cruel world, good bye!


"Se você for corajoso, escute o coração. Se for covarde, escute a cabeça."
Osho
Andei pensando sobre últimas palavras e o quanto elas podem significar em um filme, em um livro, na vida. Olhando a página do Twitter de um amigo que infelizmente já foi pro outro lado observei seu último twitt, congelado no tempo, há seis meses anunciando a festa a qual ele compareceria e que não tinha nada a ver com a personalidade dele. Se ele soubesse que aquela era sua última oportunidade de escrever algo, seria isso? 

"Cidadão Kane" inteiro se baseia no significado das últimas palavras de um homem. "Como num beijo, eu morro..." últimas palavras de Romeu. "Sempre teremos Paris" últimas palavras trocadas por Ilsa e Rick em Casablanca, "Baby, você vai perder aquele avião" - "Eu sei." Celine e Jesse no fim de Antes do Pôr do Sol. Teria "Romeu e Julieta" o mesmo valor se as últimas palavras de Romeu, por exemplo, fossem "merda!"?

Temos uma tendência natural a valorizar os últimos momentos, as últimas palavras, os últimos gestos justamente porque encaramos tudo como finito. É meio paradoxal quando percebemos que essas palavras foram imortalizadas porque foram as últimas.

Um grande amigo descobriu recentemente que o tempo está contra ele. Ele é jovem e aparentemente saudável, se não fosse por um câncer que o consome.  Uma vez ele me falou sobre seus sonhos, grandes sonhos, seus planos, seus medos. Era tudo tão plausível de ser realizado. Ele tem o talento, a força de vontade, e pensava que tinha uma eternidade pra fazer tudo. Ele passou tanto tempo pensando que amanhã poderia fazer, que outra chance apareceria, que quando foi pego neste pesadelo em vez de celebrar o novo dia como uma oportunidade de realizar seus sonhos, simplesmente congela pela manhã pensando que o amanhã com que ele contava possa não existir.

Um homem extremamente sábio chamado Brian Weiss diria para o meu amigo: a vida é eterna, não importa se esta existência está chegando ao fim, na próxima o tempo pode estar a seu favor. Eu acredito nestas palavras, mas também entendo a frustração e o medo do meu amigo, porque se nenhum dia é igual ao outro, nenhuma existência será como a outra. Mas também entendo que toda esta situação pode trazer uma última lição que pode ser útil não apenas para ele, mas para todos nós. Por isso escrevo estas palavras e compartilho com vocês esta vã filosofia urbana. 

Não se pode adiar a vida, não se pode protelar um momento. Se nos focarmos no agora, no presente, em cada momento da vida que é único talvez possamos diminuir o sofrimento e realizar muito mais do que sonhamos. Não é justo que a vida tenha estes desfechos, mas também não é nada justo que a gente fique se lamentando em vez de agir e aproveitar, mesmo o sofrimento precisa ser abraçado, assimilado, pra que desapareça deixando só o seu lado bom, sua lição, seja para essa ou para as próximas vidas, para você ou para o próximo.

Por isso deixo aqui um texto de Mário de Andrade que me fez pensar nessa valorização das últimas palavras e da vida em geral. Carpe DIem não é o suficiente pra expressar tudo isso.

O valioso tempo dos maduros
Mario de Andrade
Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas...
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade.
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!


E pra finalizar:

"ROSEBUD"

E a busca por significado que essa palavra pode gerar. Viva as lacunas em branco. Viva o amanhã incerto. Viva esse momento, agora.



Um comentário:

  1. eu estou pensando seriamente em excluir o meu twitter,antes que eu seja excluida dessa mundo,e por que eu nunca twitto nada,seria terrivel o meu ultimo twitt,que imagino que seja uma coisa bem idiota HAUHAUHUAHHAUHA
    nossa,o texto fico bem legal,e o poema,eu gostei bastaste :D

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